“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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19.6.08

Avaliar

A tarefa de avaliar é uma das tarefas mais exigentes que há e uma em que todas as partes envolvidas (não só algumas) esperam boa fé, honestidade e seriedade, isenção e critérios objectivos definidos à partida. No caso da Educação o objectivo da avaliação deve ser o de servir exclusivamente para medir o grau dos conhecimentos adquiridos de uma determinada população estudantil de acordo com o programa estabelecido como objecto de exames e provas. Avaliar permite quantificar através de uma medida (a nota) a quantidade de conhecimentos adquiridos, bem como a capacidade de os aplicar em casos concretos ou de os integrar e relacionar com outros universos do saber contribuindo para a formação da pessoa. Avaliar bem interessa a todos: aos alunos que vêm os frutos do seu trabalho (ou não), aos professores e às escolas que podem através dos resultados dos seus alunos tirar conclusões que eventualmente lhes permitam melhorar o exercício da sua missão de ensinar, aos Pais que financiam a educação dos filhos (quer através dos impostos quer através de impostos e de propinas de estabelecimentos de ensino privados) para que os filhos usufruam do melhor ensino possível, às universidades que podem escolher quem querem ou não aceitar, à sociedade em geral que ao recrutar recursos humanos tenta também sempre ter o melhor possível.

Como disse no início, avaliar é uma tarefa essencial e muito séria, e que devia ser levada a sério por quem tutela da Educação no nosso país. Infelizmente não é isso que temos. Todos os anos se mudam programas objecto de exames, todos os anos se mudam o tipo de exames, todos os anos se ajustam os critérios da avaliação, não em função do seu objectivo desejável que é medir e dar um grau ao conhecimento, mas em função de critérios políticos cujos objectivos são o de mostrar que a iliteracia se vence a cada dia, a cada ano, a cada governo e que em anos que precedem eleições a iliteracia atinge números mínimos até agora nunca vistos. Há também que melhorar o mapa do sucesso escolar para não fazermos má figura face a uma Europa de uma forma geral mais educada e rigorosa quer no ensino, quer na avaliação. Com tantas mudanças de parâmetros cada um faz a estatística que quiser pois não há uma só variável, todos os dados são variáveis e os números são obtidos em função de um resultado político que se pretende e não em função do que cada aluno sabe de facto, do que cada faixa etária num determinado ciclo escolar sabe de facto.

O que se tem passado a este nível é uma forma de mentira institucionalizada em que a mediocridade se espalha pelo universo estudantil como uma nuvem. Quando se estimula a mediocridade criamos o abismo futuro, mas perceber isto é muito complicado para quem só consegue pensar em ciclos de uma legislatura de quatro anos. Ver esta situação revolta-me profundamente por isso, e sem conhecer os detalhes da proposta do CDS/PP de propor uma estrutura independente para conceber os exames nacionais, aplaudo e estou na generalidade de acordo com tal proposta. Aliás só tirando a avaliação dos estudantes desta necessidade – e, infelizmente, facilidade - de fazer boas estatísticas e de servir propósitos eleitoralistas, se pode começar a ter alguma seriedade no ensino. Pode ser um bom começo.

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