Tive sempre dificuldade em ligar a noção de direito à maternidade e paternidade. Não acredito que se tenha “direito” a ter filhos da mesma forma que se tem direito ao subsídio de férias ou direito à educação ou à justiça. Também tive sempre dificuldade em associar o conceito de liberdade ao da maternidade e paternidade, pois da mesma forma que não se tem “direito” a ser mãe e pai, também não é linear que se escolha sempre livremente sê-lo ou não. A massificação e liberalização da contracepção é que nos deram a ilusão de que ser mãe e pai é algo que está no nosso controle, no nosso domínio e queremos programar exactamente os timings correctos para qualquer decisão, para não só termos os filhos que programamos como para que possamos respirar de alívio e dizer que foram muito desejados. O mais engraçado de tudo isto é que ouço e leio pessoas nascidas nos tempos em que a contracepção não estava disponível nem era aceite, escrever teses e falar de como as crianças devem ser desejadas. Fico sempre com vontade de perguntar se eles próprios, (com cinco, seis, dez irmãos ou mais!), foram assim tão desejados pelos seus pais e que impacto isso teve na sua vida e na sua felicidade.
Desde sempre que os seres humanos tentaram iludir a natureza, quer para ter, quer para evitar ter filhos, mas só hoje com o desenvolvimento científico é que vivemos todos na ilusão de que a maternidade e a paternidade é uma opção livre e responsável e totalmente controlada por cada um de nós.
Desde sempre que os seres humanos tentaram iludir a natureza, quer para ter, quer para evitar ter filhos, mas só hoje com o desenvolvimento científico é que vivemos todos na ilusão de que a maternidade e a paternidade é uma opção livre e responsável e totalmente controlada por cada um de nós.