“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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30.4.07

Como se isso fizesse diferença

Anda tanta obsessão com a vida saudável e com a alimentação que até logo à noite o Prós e Contras será dedicado à obesidade. O ser humano parece condenado a ter uma relação nada pacífica com a sua principal fonte de energia e uma das suas fontes de prazer: a alimentação. Esta relação nada pacífica é ancestral e já parece estar inscrita nos nosso genes e vem do tempo em que era preciso fazer stock e comer em abundância para fazer face aos tempos difíceis de penúria, os longos Invernos em que a terra nada dava, as guerras que não permitiam a cultura e a circulação de bens alimentares. As religiões complicaram um pouco esta relação: criaram tabus alimentares, promoveram jejuns, tentaram, como podiam controlar também essa relação tão pessoal entre cada um e o seu prato, incutiram a culpa. Os tempos de abundância dos dias de hoje convivem com espaços de fome e de falta de recursos, o que prova o desequilíbrio do mundo em que estamos e a fragilidade da nossa relação com a comida que também está manchada por alguma culpa. Hoje a classe médica avisa e informa, os psicólogos fazem teses abundantes sobre a estranha relação de pessoa com os alimentos, explicam a obesidade e discorrem sobre as “novas” doenças tais como anorexias e bulimias. Os políticos têm algo a dizer e medidas a propor, como se isso curasse esta estranha relação nossa com a comida, como se isso fizesse diferença.

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