José Sócrates, hoje na cerimónia de entrega do certificado de nacionalidade portuguesa.
Foi um lapso, eu sei. José Sócrates corrigiu-o, mas a ironia é que por uma fracção de segundo e inconscientemente, José Sócrates foi honesto. Todos nós, cidadãos, damos para um país que está cada vez mais pobre. Pobre porque a criação de riqueza está longe dos parâmetros desejáveis. Pobre porque a produtividade nacional é baixíssima (comparada com os restantes países da EU). Pobre porque o nosso poder de compra é cada vez menor. Pobre porque o nosso endividamento é cada vez maior. Pobre porque cada cidadão tem uma carga fiscal que não tem retribuição em termos de qualidade de serviço oferecido pelo Estado. Pobre porque o Estado é cada vez maior e consome cada vez mais recursos. Pobre porque é tão difícil, tão complicado, tão exigente e tão pouco aliciante investir, ter ideias, criar, fazer empresas.
Mas também é pobre de espírito, porque o espaço para que o espírito livre cresça, floresça e se desenvolva é cada vez mais pequeno. Pobre de espírito porque os zelosos se multiplicam para impedir que o espírito se solte, e apontar com o dedo espíritos livres, porque os reguladores se entretêm a controlar e atribuir quotas percentuais de quanto e de quem se deve falar e onde. Pobre de espírito porque tantos concordam com tanto, porque quem estava do outro lado depressa passa para este hipotecando a liberdade quando acenado com o poder ou a ilusão dele. Pobre de espírito porque se questiona tão pouco, se ilude tanto, se leva tão a sério, e vê tão pouco à volta.