“Noni had recovered her confidence only when it was too late. Life had passed her by and in those days things had to happen fast for a girl, or they didn’t happen at all.”
Kiran Desai, The Inheritance of Loss
Li, porque fui obrigada e não porque me apetecesse ou tivesse sentido algum impulso empático, Simone de Beauvoir e Benoite Groult, e fui conhecendo os movimentos feministas que tinham despontado em várias partes do mundo nomeadamente em Portugal apesar de nunca ter querido ler “As Três Marias”. Para além das verdades incontornáveis, sempre em número muito menor do que queriam fazer crer, todo o feminismo descrito nas obras lidas me parecia hostil, estranho, demagógico e por vezes de uma agressividade que eu, ainda a aprender a ser mulher, rejeitei. Nunca percebi, por exemplo, porque é que para usufruirmos de igualdade de oportunidades tínhamos de, por um lado ser hostis para com o mundo masculino, e por outro adoptar atitudes e comportamentos (e vestuário) tipicamente masculinos. No entanto o século passado ficou inegavelmente marcado na nossa sociedade ocidental pela grande participação das mulheres na vida pública e pela chegada das mulheres a lugares antes exclusivos dos homens, e muito disso se deve aos movimentos feministas.
No entanto onde se nota uma cada vez maior evolução nas mentalidades bem como na vida vivida por cada uma de nós (mulheres), é no facto de podermos ser sempre mulheres. Explico. Hoje ser mulher não é só aquele breve momento do auge da beleza física (bloom) que começa na pós adolescência quando a rapariga “entrava” para o mercado do casamento à procura de um bom marido, para que logo de seguida deixasse de ser simplesmente mulher para ser “a mulher de”, e terminava muitas vezes com a chegada da maternidade, passando a ser mãe e continuando a ser mulher de. A pouco e pouco a mulher diluía-se nos novos papeis em que outros eram protagonistas. Hoje, a mulher reclama a sua identidade independentemente do estado civil, da maternidade ou não, da carreira profissional ou não. Cada vez mais ela é ela própria. Hoje todos os dias são cada vez mais, dias de novas oportunidades, de novos desafios, de recomeços, e de escolhas, reclamando para nós os mesmos direitos de busca da identidade, de afirmação e de realização pessoal, que os homens têm usufruído ao longo dos tempos. Hoje, de certo modo, já não se joga tudo naqueles breves momentos do fim da adolescência.
Tenho escrito aqui no blogue notas com o título “Véu Islâmico”. Uso esse título porque dificilmente consigo olhar para o “véu islâmico” como um exercício de liberdade individual, mesmo nas sociedades ocidentais onde ele funciona como símbolo de pertença. Não consigo deixar de olhar para esse “véu islâmico” como um símbolo da anulação dessa identidade feminina, feita por sociedades hostis às mulheres e com leis que cerceiam o desenvolvimento da sua identidade e liberdade pois as consideram seres menores e inferiores.