Still Life with Cherries and Strawberries in China Bowls (1608)
(clicar para ver melhor, vale a pena)
As naturezas mortas são às vezes olhadas de soslaio como uma forma menor e menos nobre da pintura, mas há quadros surpreendentemente belos e que, apesar de carregados de simbolismo - sobretudo os barrocos, e apesar de compostos de uma forma artificial e quase provocadora, são de uma beleza e contenção comoventes. Este quadro é um exemplo de delicadeza e aparente austeridade e contenção. Numa composição gráfica equilibrada surge uma orgia de detalhes: os caules das cerejas num movimento frenético, a libelinha, os desenhos finíssimos das taças de porcelana fina (Companhia das Índias, a julgar quer pela forma quer pela qualidade), os morangos que são mais pequenos que as cerejas, algo de raro para quem hoje come todo o ano morangos de estufa, o trabalho delicado das taças, a forma como a luz se reflecte nas frutas e nos vidros. São quadros como este que me fazem gostar tanto da pintura flamenga e nunca me cansar de os olhar.