Quando no Reino Unido se dá um título honorífico a um escritor que, apesar de ser muçulmano, mostrou a sua discórdia perante uma forma de ser e de viver essa religião, países como o Irão e o Paquistão erguem-se em protestos diplomáticos fortes. Não estamos só a falar de gente na rua a queimar bandeiras, falamos também das estruturas de poder. Como se o Reino Unido não fosse um país livre de dar títulos honoríficos a quem acha que os merece e como se o critério de atribuição desses títulos tivesse que passar pelo escrutínio do poder político de Teerão ou de Islamabad. Dizem que a Rainha é responsável por este acto de provocação. Provocação? Salman Rushdie nunca apelou ao ódio, nunca teve um papel político de relevo contra nenhum país islâmico, nunca foi intolerante, limitou-se a mostrar através da sua obra marcante e fascinante - para quem como eu gosta de o ler - quer ficcional quer ensaística desagrado e pouca compreensão perante a intolerância do Islão. Salman Rushdie é um cidadão do mundo, do tamanho de todas as civilizações, com uma obra que reflecte sempre esse mosaico que é a essência humana, cultural e civilizacional que hoje está, mais do que nunca, ao alcance dos homens de boa vontade que a queiram ver. Long live Sir Salman Rushdie.