“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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11.6.07

Porque será que esta notícia (via Insurgente) não só não me surpreende como até me parece que tardou. O grande argumento utilizado para a liberalização do aborto tal como foi referendado e legislado, era acabar com o “vão de escada”. Como vemos pela notícia, só no Hospital de Santa Maria, 80% dos médicos invocaram objecção de consciência e os outros têm outras prioridades, o que se traduz no facto de muito poucos abortos serem de facto feitos em hospitais públicos. Também já sabemos, e já aqui escrevi sobre o assunto, que a opção de não praticar abortos por parte dos médicos tem custos (o hospital terá que pagar a intervenção numa clínica ou noutro hospital), mas que a opção de abortar não tem, fazendo jus à frase “aborto a pedido”, podendo haver número ilimitado de “a pedido” sem qualquer custo para quem pede, mas sempre com custo para quem invoca o direito de não o fazer. Como previsto, chegou um novo e próspero negócio: as clínicas que fazem abortos e que serão subsidiadas por todos nós. Pelas facturas que o estado, através de anúncios de televisão, nos lembra simpaticamente que temos que pedir. Nunca perceberam que o “vão de escada” é uma mentalidade, e não uma realidade sociológica, e que o “vão de escada” será sempre mais discreto, mais prático e mais rápido.

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