Ouvi (SIC) José Sócrates em declarações para a televisão chocado com as propostas dos partidos da oposição para “aumentar a despesa” referindo-se às votações hoje na AR. Até disse que a oposição era “desleal” naquele seu jeito self-righteous de repudiar tudo e todos os que não estão em sintonia consigo e lhe atrapalham o optimismo. O Primeiro-ministro acha que tem jeito para brincar com as palavras, mas a semântica saiu-lhe, mais uma vez, toda errada.
É que “aumentar a despesa” tem pouco a ver, quer política quer financeiramente, com “diminuir a receita”, sobretudo uma receita construída com base num cenário fantasioso e pensado para uma célere diminuição do deficit (que noutro abuso semântico chamarão “recuperação económica”) que a UE exige, bem como o clima de permanentemente eleitoralismo em que o país se encontra com a perspectiva de eleições antecipadas que teima em pairar. Os partidos da oposição não quiseram “aumentar a despesa”, nem foi isso que foi votado. Recusaram-se sim a sancionar um “conforto” da receita aumentando a sobrecarga fiscal para os contribuintes e empresas cada vez mais estrangulados.
Este volte-face hoje no parlamento em que o governo esteve sempre isolado, irá obrigar o governo, o Primeiro-ministro, Ministro Teixeira dos Santos e restantes responsáveis a encarar a realidade que têm procurado não ver, tão iludidos que estão com o país do optimismo em que os contribuintes podem sempre ser um pouco mais espremidos para pagarem os erros de uma má governação e de uma política orçamental despesista feita a pensar em eleições (nas que foram e nas que hão-de vir). Mas controlar a despesa é muito mais “chato” e impopular do que aumentar a carga fiscal, não é?