“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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21.2.10

Um Homem Singular


Leio numa entrevista a Tom Ford (que desenhou os vestidos mais elegantes da década de 90 pela Gucci e que agora fez um filme) a sua confissão de que, tal como a personagem principal do seu filme – uma espécie de alter ego, segundo o próprio, se sente atraído por mulheres, o problema é que nunca se apaixona por elas, só por homens. Diz o entrevistador, com a concordância do entrevistado, que isso é a situação menos usual, que é mais frequente um homem gay apaixonar-se por uma mulher mas não conseguir ter desejo por ela. Confesso a minha perplexidade perante estas nuances, e mais ainda perante esta arrumação tão direitinha de fronteiras tão bem definidas entre paixão, desejo e afins.

Single Man é um pouco o reflexo deste mundo arrumado e compartimentado. É formalmente impecável a todos os níveis e sem descurar um único detalhe. Poderia ter caído no exagero formal que traz consigo sempre algum vazio, mas Colin Firth, num trabalho notável, não deixa nunca que isso aconteça. Os outros actores, é justo dizê-lo, nomeadamente Julianne Moore, são também muito bons e permitem dar a este filme a espessura necessária para que seja um muito bom filme. A cena de Colin Firth ao telefone quando é informado da morte do seu companheiro é absolutamente notável: pelo trabalho de representação, mas também pelo que mostra, sem mostrar, do que é a vida de um casal gay, do que é ser gay, na América dos anos 60.

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