“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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7.2.10

Da Percepção

O autoritarismo natural de Sócrates não basta para explicar essa aberração na essência inteiramente inexplicável. Tanto mais que ela o prejudica e dá dele a imagem de um homem inseguro e fraco. Pior ainda: de um homem desequilibrado e perigoso. A única hipótese plausível é a de que o primeiro-ministro vive doentiamente no mundo imaginário da propaganda. Ou melhor, de que, para ele, a propaganda substituiu a vida: Sócrates já não partilha ou nunca partilhou connosco, cidadãos comuns, a mesma percepção de Portugal. Do "Simplex" que nada simplifica ao estranho melodrama sobre as finanças da Madeira que nada pesam, aumenta dia a dia a distância entre o que país vê e compreende e o que o primeiro-ministro afirma enfaticamente que é. Está perto o ponto em que só haverá uma solução: ou desaparece ele ou desaparecemos nós.

Vasco Pulido Valente no Público de hoje, fala da fantasia em que José Sócrates vive. Eu diria mais: ele sempre viveu nesse mundo paralelo fabricado de propaganda, anúncios e medidas, e movido pelo seu combustível de eleição: um teimoso e obstinado optimismo de uma superficialidade e ignorância confrangedores e incapazes de resistir a um qualquer escrutínio. Essa percepção de Portugal tão sua (de Sócrates) já contaminou o átomo (repito átomo, a que atribuo o sentido de “quase insignificante”) de realismo que conseguia sobreviver no seu governo, que era Teixeira dos Santos. Algo se passa de muito errado, nomeadamente com Teixeira dos Santos, que depois da sua declaração chantagista, já deveria ter pedido a demissão. Aliás pedidos de demissão são actos omissos deste grupo de gente que nos governa. Isso e vergonha na cara. Aguardemos.

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