A omnipresença de Berardo na vida nacional e comunicação social é um paradigma do nosso (português) deslumbramento. Primeiro porque o Comendador está deslumbrado consigo próprio, e provavelmente terá razões de sobra para o estar, pois serão poucos a gabarem-se de conseguir o que ele conseguiu e tem conseguido, quer em termos financeiros, quer em termos de influência uma vez que ele veio de um meio menos favorável ao sucesso do que outros. E segundo porque o país, pelo menos uma parte influente do poder, está deslumbrado com ele, por razões que se me afiguram difíceis de perceber. Ser rico, só por si não justifica tanto deslumbre e atenção.
Esperava-se de um homem que conseguiu ir fazendo - e pelos vistos, apreciando, uma colecção de arte contemporânea como a que ele fez, alguma sensibilidade, e já agora algum bom senso também, bem como polidez, cortesia e mesmo contenção mas talvez estas expectativas estejam desfocadas do que hoje é valorizado quer pelo “povo” quer pelos media. Aparentemente neste campo o Comendador é omisso e aproveita cada migalha de luz de holofotes para mostrar falta de cortesia e modos rudes, é incapaz de resistir a um microfone sem se coibir em agredir e mesmo insultar este ou aquele com o ar seguro de quem sabe que pode pagar a conta, mesmo que tudo faça para não a pagar. Não questiono a pertinência dos seus motivos ou intenções ou mesmo opiniões, até quero querer que ele tenha muitas vezes razão, seja racional, lúcido e bem intencionado, mas condeno veementemente a forma como ele os veicula e faz valer o seu ponto de vista em todas as matérias que andaram, nestes dias passados, nas primeiras páginas dos jornais. Lamento também que a comunicação social o procure tanto, o filme tanto e lhe coloque um microfone perto da boca de cada vez que ele teima em “aparecer”.