“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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10.7.07

Na Praia de Chesil

Aquela ainda era a época – que viria a terminar mais tarde naquela famosa década – em que ser jovem era um estorvo social, uma marca de irrelevância, uma situação ligeiramente embaraçosa para a qual o casamento era o início de uma cura. Quase dois desconhecidos, ali estavam eles, estranhamente juntos, num novo pináculo de vida, rejubilantes por o seu novo estatuto prometer promovê-los permitindo-lhes sair da sua interminável juventude – Edward e Florence, enfim livres!

Ian McEwan, Na Praia de Chesil


Antes de ter lido o livro li um comentário na imprensa anglo-saxónica em que se falava deste pequeno romance como de uma resposta europeia a Everyman de Philip Roth. Eu também tive essa sensação. Roth, nomeadamente em Everyman ou Dying Animal, tem uma escrita potente cheia de “meaning”, enquanto que Ian McEwan tem uma forma de escrever mais elegante, um pouco mais contida, sem no entanto deixar de fluir de uma forma magnífica, que serve personagens belíssimas, mas também elas mais contidas e algo tensas no seu submundo de não ditos e de expectativas que as habita. McEwan é seguramente mais “europeu” e Ropth mais “americano”, tanto quanto estas etiquetas se podem aplicar, e ambos criam um pequeno mas intenso romance sobre ser e viver.

Na Praia de Chesil é um romance povoado de tensões e emoções, o espanto, o desejo, a espera, as expectativas, o desnorte, a inocência, o medo, a paixão, a perda, o amor, e claro, os “não ditos” que são, eles próprios, uma personagem central de pleno direito, e determinantes na construção da narrativa. Lê-se com muito prazer.

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