“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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17.1.08

Fumos

Num ambiente na comunicação social e nos blogues ainda marcado pela síndrome de abstinência de tantos fumadores que vêm limitado (um pouco, só) o seu direito de acender um cigarro onde quer que seja, leio posts indignados com o ambiente de proibição em que se vive hoje, num saudável saudosismo do “é proibido proibir” dos idos anos 60 que nunca é mau lembrar, e vejo glamorosas imagens de homens (se é que Serge Gainsbourg alguma vez foi glamoroso...) e mulheres de cigarro na mão ou na boca tentando demonstrar e elevar a estética do acto de fumar. Primeiro dos direitos. A seguir do glamour.

Dos direitos

O meu direito e a minha liberdade individual de não respirar em ambientes de fumo e de não ser fumadora passiva foi, desde que me lembro, objecto de muito pouca preocupação quer por parte do estado quer por parte dos fumadores que comigo privavam e ainda privam, com raríssimas e honrosas excepções. Anos e anos trabalhei em ambientes de fumo com fumadores desde as primeiras horas da manhã (e não sabem o que custa) e respirei o ar que eles poluíam, tomei refeições olhando e respirando cinzeiros cheios, arranjei o cabelo em cabeleireiros onde outras senhoras afastavam de suas cabeças acabadas de pentear o fumo dos seus próprios cigarros. São estes alguns dos exemplos de uma lista que poderia continuar. Custou-me sempre acreditar que o meu direito de não respirar ar sujo e estragado pelo cigarro dos outros tenha sido ao longo do tempo objecto de tão pouca consideração, respeito e preocupação. Mais do que o fumo de um cigarro que um amigo possa fumar perto de mim, e que pouco incomoda de facto, o que revolta tantos não-fumadores foi, e é, o facto de ser dado como adquirido o nosso acordo – tácito, em respirar o ar sujo pelo fumador, mostrando, esse sim, pouco respeito pela nossa liberdade e saúde. E tratar da minha saúde é um direito que me assiste e que exerço como e quando quero, tal como o direito dos fumadores de, na privacidade ou em locais apropriados fumarem tanto quanto queiram. Finalmente o estado pela mão deste governo e de outros anteriores (e este blogue não pode ser acusado de simpatias com o governo que hoje nos governa) tem vindo a proteger um direito meu e de uma tão grande maioria de, em locais públicos e fechados se respirar ar sem fumo.
(continua)

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