O artigo de ontem no Público de Vasco Pulido Valente transcrito aqui e aqui, lembrou-me o tão recente episódio gerado pela notícia do dia 2 deste mês no Correio da Manhã. Porque tenho dificuldade em acreditar na inocência de uma legislação que condiciona a escolha de um nome de patrono que terá que ter/ser “reconhecido valor de personalidade que se tenha distinguido na região, nomeadamente no âmbito da cultura, da ciência ou educação,podendo ainda ser alusivas à memória da expansão portuguesa, à antiga toponímia ou a características geográficas ou históricas do local onde se situam os estabelecimentos de educação ou de ensino”, ou na bondade dos orgãos regionais do MNE, que segundo o desmentido ao desmentido, (e porque não houve desmentido ao desmentido do desmentido) terão dado indicações de que se evitassem nomes de cariz religioso, creio que estamos perante mais uma investida da nova ordem moral tão cara a José Sócrates - e ao seu mentor do politicamente correcto, José Luis Zapatero. Uma investida discreta, em que as instruções são insinuadas de forma informal para conseguirem passar a mensagem sem grandes perturbações e testar as reacções das partes implicadas. Indo devagar, aprovando uma medida hoje, outra amanhã para não levantar ondas e evitar as manifestações que enchem as ruas, vão-se tirando as cruzes das enfermarias dos hospitais mesmo contra a vontade dos utentes, aprovando estatutos para os capelães que deixam de ter autonomia para de visitar qualquer doente, tudo em nome da laicidade e imparcialidade do Estado, mas inspirados por ímpetos republicanos e jacobinos de outras épocas, para tornar o país e a sociedade tão limpa quanto possível das bafientas, maléficas e ameaçadoras referências à religião católica, e afastá-la tanto quanto possível do convívio com a hierarquia da Igreja Católica maioritária no país e parte fundamental e integrante da nossa tradição, história e cultura.
De um ponto de vista antropológico seria interessante estudar esta vontade de despir a sociedade dos seus valores religiosos (que hoje, só para lembrar quem teime em viver no passado, não são nem coercivos nem opressores) que a formaram, que lhe são específicos e que são tão naturais ao ser humano. Seria interessante perceber esta vontade de criar um vazio, um grau zero de religiosidade social e do Estado, numa altura em que temos um Estado inegavelmente laico (e ainda bem) e em que a religiosidade hoje se manifesta mais através de alguns rituais, de referências e de feriados (que ninguém ousa tocar, com excepção do católico Cavaco Silva quando era Primeiro-ministro) do que através de uma prática que transborde e influencie determinantemente o Estado. Mais interessante ainda seria perceber esta intolerância face ao que é “nosso” (num sentido lato) face às nossas referências religiosas de que fala VPV e que resulta da tolerância à diversidade. Se hoje se tolera na sociedade ocidental, e provavelmente em Portugal também - só que ainda não o sabemos - a propaganda islâmica, se preferirem, de ensino corânico, que prega a perversidade essencial do Ocidente e tenta promover a sua expeditiva eliminação (cintando VPV), como é possível que alguns sectores se sintam ameaçados na sua liberdade, nos seus conceitos por coisas simples, mas que inegavelmente traduzem uma identidade, uma religião, uma cultura, uma tradição, que as nossas, como nomes de Escolas, a presença de um Bispo numa inauguração ou um cantar de Janeiras?