Confesso não perceber nada de futebol, nem fazer muito esforço por perceber. Se do jogo pouco entendo, então daquilo a que se chama “mundo do futebol” é que não percebo nada mesmo, em tão pouco me apetece tentar perceber. Acredito que seja um mundo cheio de paixões, dinheiro, vícios, influências, jogos de bastidores porque é aquilo que parece ser mais óbvio e fácil de acreditar. O meu saber futebolístico resume-se a ver os jogos da Selecção Nacional em momentos decisivos (Euros e Mundiais) e em querer saber se o meu clube, o Futebol Clube do Porto, ganha ou não quando me lembro de que é fim de semana e que talvez tenha jogado e, felizmente, regozijar-me com as suas vitórias.
Apesar deste curriculum brevemente resumido, tenho ficado absolutamente boquiaberta e colada à televisão cada vez que falam do Boavista, e desta recente crise em que está e que mais parece coisa de outro mundo: o passivo, os salários em atraso, o investidor “mistério” em conferência de imprensa a garantir que está preparado para injectar milhões de euros no clube, mas que afinal já não vai investir porque depois de hoje ter sido interrogado pela PJ é agora arguido num processo de fraude, a ameaça de greve por parte dos jogadores, o dinheiro que entretanto chegou em forma de cheque com garantia dum banco da Indonésia (foi o que ouvi nos Telejornais da noite) e a greve que afinal já não vai ser. Sinto-me perdida perante uma história deste calibre, que mais parece um romance de cordel em versão futebolística, num país de ficção e de lunáticos, e que faz a falada crise do Benfica parecer simples. Nem sei o que pensar sobre o assunto, nem tão pouco se, enquanto cidadã nomeadamente porque nascida no Porto não muito longe do Estádio do Beça, devo pensar algo. Uma coisa eu sei. Nunca deveríamos estar a passar pela situação de assistir a esta crise surreal que não entendo e nunca numa liga de honra (ou lá como é que se chama esta liga dos melhores) deveriam estar clubes sem solidez financeira e de gestão necessárias para fazerem uma época completa sem este tipo de crises, se é que “crise” é a palavra correcta para definir o que se passa - parece-me uma palavra demasiado séria para este enredo que no entanto é também demasiado sinistro para ser opera buffa. Eu não disse que nunca deveria sequer pensar em escrever sobre futebol?