“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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18.2.09

Um Mundo Disney

Entre o “monte de sarilhos” dito por D. José Policarpo (advertindo as mulheres católicas que pensem em casar com muçulmanos) há algumas semanas e a “muita cautela” proferida por D. José Saraiva Martins, há um mundo que os separa. A advertência é sempre pertinente, mas a linguística nada esconde: ela é a evidência do oceano que separa os seus mundos. Quem não entende esta diferença de mundos, terá ainda mais dificuldade em digerir a não normalidade da homossexualidade a que D. José Saraiva Martins se refere. Às vezes pergunto-me se ele, e tantos outros como ele no seio da Igreja Católica, não viverão numa outra dimensão, numa espécie de “Mundo Disney” do Catolicismo, tal a falta de conexão com o mundo de todos os dias bem mais duro, prosaico e em todas em matizes de cinzento.

Nas críticas que por vezes teço em relação à Igreja Católica institucional, uma que repito tem exactamente a ver com o facto de ainda, e apesar do Concílio Vaticano II, da televisão, dos computadores, dos aviões, tantas vezes sentirmos que o nosso interlocutor (membro do clero ou de uma ordem religiosa e porque pertence à estrutura hierárquica da Igreja) vive num mundo à parte que não é o nosso e que não conhece o nosso, onde os católicos vivem, trabalham, casam, se divorciam, tentam educar filhos, pagar contas etc. Que tantas vezes ainda as realidades experimentadas por uns e por outros são tão díspares que tornam o diálogo quase um eco em que cada um só se ouve a si próprio.

Nota: a não normalidade da homossexualidade poderá sempre ser entendida e demonstrada do ponto de vista estatístico. Duvido, no entanto, que tenha sido essa a intenção neste caso, onde essa “normalidade” certamente pressupõe um juízo de valor.
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