“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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3.2.09

Um Serão Televisivo

Televisão ligada para assistir à competência desalmada (sem anima) e polida de Pedro Passos Coelho. Nunca aquele homem me faz abrir um pouco mais os olhos, me faz mudar a expressão dos lábios, me faz franzir um sobrolho. Tudo nele é liso, estudado, aprendido, ensaiado e competente. Não há nunca um rasgo de humor, um lapso (então gaffes nem falar), um tom confessional a permitir um desabafo. Tudo dito como manda o manual de como ser líder e primeiro ministro com um mínimo de risco, de investimento pessoal e de esforço. Mas o pior é a dificuldade que PPC tem em lidar com a verdade pois, tal como aquelas flores que de tão bonitas até parecem de plástico, também ele respira plástico, falso e hipocrisia. Senão vejamos: para quê insistir na legitimidade de Manuela Ferreira Leite, valorizar que ele cumpra o seu mandato se no minuto a seguir ele se diz disponível para ser primeiro-ministro e se o seu percurso é o de sistematicamente contradizer e opor qualquer declaração da líder do PSD? Porque é que ele investe tanto em, sempre que MFL toma uma posição, vir para a comunicação social dizer o contrário e o oposto. Se acredita que é importante estabilidade no PSD porque é que a sua intervenção política é tão activa enquanto oposição. PPC parece ser mais um deste políticos que infelizmente tão bem representam o pior dos políticos em Portugal, para quem a verdade é um conceito oco e que demonstram inconstância e desajuste entre as suas palavras e os seus actos, bem como nenhum respeito pelos cidadãos que o ouvem dizer num dia e desdizer no dia a seguir.

Também fiquei espantada com as políticas que preconiza para o país, e o tornam diferente de MFL e a forma como se demarca do governo socialista actual: lançou umas frases banais, desinspiradas e sem nexo para um ouvido mais exigente em que mistura liberalismo com intervenção moderadora do estado que impeça as injustiças de um mercado livre, no quel, se bem entendi, ele não acredita. Se isto é liberalismo, então os porcos devem também voar. Eu não percebi nada, mas deve ter sido problema meu.

A segunda parte do serão televisivo foi passado a discutir a justiça, mais do que discutir o caso real de José Sócrates com o Freeport. Não vi até ao fim, porque me cansou ver tantos representantes do regime a evitarem o tema e a evitarem questionar o Primeiro-ministro nas suas decisões políticas enquanto Ministro do Ambiente e em questionarem as actuais declarações de José Sócrates. Ao que parece, segundo o que já li na blogosfera o Prós e Contras foi, sem surpresa, mais uma manifestação do seguidismo da RTP face ao poder actual. Portanto, nada de novo.

No intervalo dei graças a Deus pelo Dr. House. Um rasgo, aí sim, de inteligência, de humor e de talento que permite a evasão, sair daqui, coisa de alguns instantes, e pensar que lá longe muito longe Portugal é mesmo um pobre e pequeno país.

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