“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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4.2.09

Revolutionary Road



Revolutionary Road não é um filme que cause grande entusiasmo generalizado, nem é “diferente” ou deslumbrante, mas é sólido e de uma qualidade irrepreensível. Eu gostei muito de o ver. Parece ter sido feito para enaltecer o trabalho dos actores e conseguiu isso mesmo: fá-los brilhar da primeira à última cena e creio que ninguém duvidada disso. Kate Winslet, Leonardo di Caprio e um fabuloso Michael Shannon dão o seu melhor para deleite de quem os vê. O filme explora o sentimento de frustração de um casal de um subúrbio norte-americano nas suas múltiplas facetas e ao fazê-lo deixa vir à tona o que move cada um dos elementos do casal, o que os liga e o que os afasta. Implacavelmente comprometida com a “sua” verdade, April Wheeler não desiste de lutar e exigir o seu sonho daquilo que pensa ser uma vida com sentido, num percurso em que a questão de ser ou não verdadeiro, onde está a verdade e o que é a verdade se coloca inúmeras vezes a cada um e ao casal, bem como os limites dessa mesma verdade. John Givings, o outsider visionário e em tratamento numa clínica psiquiátrica, funciona quase como uma espécie de coro da tragédia clássica: vê o que ninguém ousa ver, diz o que ninguém ousa dizer. Nada é adquirido neste filme: não há bons nem maus, justos nem injustos, boa fé nem má fé, mas há sobretudo uma transpiração dramática inequívoca, ou não fosse Sam Mendes um homem vindo da produção teatral.
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