A curiosidade aqui expressa sobre o modo de funcionamento dos blogues colectivos é a que eu também nutro há muito. Aliás já aqui confessei várias vezes a minha preferência, em abstracto, por blogues individuais, ou pelo menos por aqueles que, sendo colectivos, deixam transparecer de maneira inequívoca a individualidade, a forma e o tom de cada um dos elementos. Eu também nunca percebi como funcionam os blogues com dezenas de colaboradores nem como se organizam e gerem, nomeadamente nos exemplos dados neste post e já vi/li demasiadas dissidências para acreditar que “tudo” se faz “naturalmente”. As estruturas informais (palavras de Miguel Castelo Branco) parecem-me facilmente permeáveis a mal-entendidos, equívocos e susceptibilidades várias, que se vão acumulando e que não sei como são contornadas e/ou resolvidas. Às vezes não são, como já todos nós (bloggers) testemunhámos, e a dissidência pode tomar contornos bem pouco discretos. Mas não é só o modo de funcionamento dos blogues colectivos que me deixa perplexa no mundo dos blogues, colectivos ou não. Há outros aspectos:
As caixas de comentários.
Há-as para todos os gostos e feitios. Confesso que visito pouco caixas de comentários, pois rarissimamente vi nelas alguma discussão que merecesse, e fosse linear, ser seguida. Há no entanto diferenças significativas entre as caixas de comentários dos diferentes blogues. Umas são as que considero laudatórias: sobretudo usadas por outros membros do blogue e alguns fieis leitores desse mesmo blogue cuja função principal é louvarem-se mutuamente usando ao infinito expressões e formas várias de dizer “ai que giro!”, “gostei muito”, “obrigado por” ou “bom post”. Neste casos lemos facilmente uma ou duas dúzias de comentários que nada dizem a não ser estas banalidades: às vezes até me pergunto se não haverá uma política concertada de louvor para aumentar as audiências do blogue, uma vez que parto do pressuposto que quem escreve em blogues é suficientemente autónomo e “crescidinho”, e não precisa propriamente de ser incentivado ou acarinhado paternalisticamente.
Outro tipo de caixa de comentário são as abusivo-insultuosas. Estas geram grandes dezenas (às vezes ultrapassam a centena) de comentários e são sobretudo, mas não exclusivamente, frequentadas por aquilo a que chamaria de anónimos “puros e duros”. Insultam quem escreve o post, treslêem o que está lá explícito e constroem todo um pressuposto implícito impossível de ver a olho nu, e que muitas vezes é mostra de pura má fé. Postam um comentário a seguir ao outro, a um ritmo que atordoa e intriga. Este exercício, de gosto duvidoso e propósito nulo, de liberdade – que é como lhe chamam - rima pouco com responsabilização e é absolutamente dispensável a não ser que, neste caso também, as audiências fomentadas por estes verdadeiros ninhos de vespas sejam elas, mais do que a discussão livre, o objectivo. Há ainda outros tipos de caixas de comentários, por exemplo aquelas cheias de “private jokes” entre comentadores ou/e elementos do blogue que, podem ter graça para quem as faz, mas interessa pouco a quem as lê. E finalmente há as caixas bizarro-conspirativas: comentadores estranhos vindos não se sabe de onde que enchem as caixas de links para sites estranhos pejados de conspiração: muito cheias de névoa.
As listas de links.
As barras laterais das listas de links são outro dos elementos dos blogues que parecem ter vida e códigos próprios. Nem sempre os entendo. Por exemplo, nunca percebi porque, ao fim de dois ou três anos e sem que nada se tenha modificado nas opções, no estilo ou no tom do blogue em causa, se exclui um blogue da lista de links. Como quem tem um blogue faz o que quer e bem lhe apetece do dito, esta estranheza minha é realmente só isso: pura estranheza. As listas de links são também elas propícias a gerar “links de cortesia” de outros blogues incrementando assim as audiências de ambos, e dando visibilidade ao tráfico que conseguem gerar. Ao contrario das caixas de comentários que visito pouco, eu uso muito as listas de links dos outros blogues e já sei que blogues têm os links para este o aquele outro blogue que gosto de visitar, por isso noto qualquer alteração.
As audiências.
Sempre presentes como quem mede o tamanho disto ou daquilo. É justo. Um dos interessantes objectivos – tantas vezes claramente enunciado – de vários blogues da esquerda à direita é conseguirem ultrapassar as audiências do Abrupto que, por sinal, é um blogue individual. Tal fixação leva-me a concluir que se toda a balança tem o seu fiel, todo o blogue tem o seu Abrupto.