Em matéria de saúde, e sobretudo quando o binómio vida/morte é equacionado, as decisões dos indivíduos tendem a ser conservadoras, isto é, confiam nas instituições da área: governos e organizações (Ministérios e Serviços de Saúde Estatais, OMS,...), nos profissionais (médicos, investigadores, enfermeiros,...), nas indústrias (farmacêutica) e nas empresas (hospitais, clínicas, ...), que acreditam estarem melhor informadas e habilitadas na recomendação de uma terapia ou de uma prevenção. Os indivíduos também acreditam, porque a vida fica muito mais fácil assim, que essas instituições quererem o bem das populações em geral e do indivíduo em particular, esquecendo tantas vezes que a saúde é mais do que uma preocupação individual, é também e/ou sobretudo um negócio, um grande negócio, que qualquer negócio existe para ter lucro, e que qualquer decisão ou medida governamental ou individual tem um custo. Como o paciente/doente é conservador na hora de optar, é-lhe muito mais fácil decidir não tomar a medicação para uma constipação do que decidir não fazer quimioterapia quando confrontado com uma doença oncológica ou até, e por exemplo, decidir não seguir o plano nacional de vacinas para si e para os seus filhos. A pressão institucional e social é forte e aumenta, tal como a incerteza e medo do paciente, nos ditos casos em que o binómio vida/morte está mais patente.
Na hora em que se fazem balanços sobre a gripe A e a suposta pandemia que (ainda?) não foi, há questões que e levantam, para além da óbvia e necessária reflexão sobre “quem é que mais lucrou com esta situação?”, ou dito de outra forma “follow the money”. Uma delas é a sensação de que às vezes, mais do que o indispensável, mas nem sempre firmemente conclusivo e sustentável saber científico, as decisões dos indivíduos são formadas por uma forte convicção ou por uma fé inabalável. No caso da Gripe A, a classe médica bem como as classes dos restantes profissionais da área da saúde mostraram-se divididas quanto à inocuidade e necessidade da vacina desenvolvida em tempo recorde pela indústria farmacêutica, e expuseram ao público a dissonância que existia no seio dessas instituições, em quem os indivíduos tanto confiam. Neste caso elas falavam a diferentes vozes; basta lembrar por exemplo o número de médicos e de enfermeiros que recusou ser vacinado. Todos nós conhecemos algum. Ao contrário dos profissionais de saúde, os governos que tomaram uma decisão política sobre a Gripe A, e serviços administrativos da área da saúde falaram (perceber o porquê será também interessante) com convicção e firmeza. Opiniões divididas, em quem se acredita?
A atenção dada pelos meios de comunicação a cada novo caso confirmado, primeiro no México, depois nos EUA, depois na Ásia, na Europa, em Espanha e finalmente em Portugal, ou a uma morte – como se se anunciassem nos media outras mortes, resultantes de doenças igualmente contagiosas, como a gripe sazonal, ou não, foi demasiada e por um longo período de tempo. Houve também um excesso de comunicados ou intervenções diários dos responsáveis nacionais pelos serviços de saúde, no caso português já ninguém conseguia ver e ouvir Francisco George, que cansaram uma população que depois do impacto inicial depressa percebeu que a maioria dos casos de gripe A se resolviam, felizmente, como qualquer outro caso de gripe: cama, repouso, paracetamol e alguma paciência, o que foi afastando progressivamente a equação vida/morte do caso da gripe A. Não houve por isso razão para ter uma forte convicção ou uma fé inabalável. Sobram, isso sim, milhões das vacinas compradas pelos governos que agora tentarão vender, provavelmente e comme d’habitude, a quem não precisa. Nada de novo.