“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
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15.1.10

Sherlock Holmes


Recentemente Robert Downey Jr. e Jude Law (os dois juntos no mesmo filme é algo a não menosprezar), foram os (dois) únicos motivos que me levaram a ver “Sherlock Holmes”, filme de Guy Ritchie que para além dos actores prometia pouco. Confesso que não esperava nada do filme – eu não gosto de filmes de “efeitos especiais” e não gosto de demasiada acção traduzida em explosões contínuas e ruído ensurdecedor. Mas o filme surpreendeu-me: os diálogos eram vivos e divertidos cheios de um humor que, sem ser muito sofisticado, era inteligente, as personagens (Holmes e Watson) foram levadas ao extremo das suas "personalidades" mas, e inesperadamente, nunca se tornaram caricaturas pouco credíveis das personagens que já conhecemos, aspecto que me parece ser a força do filme. Downey Jr. & Law formam uma dupla fantástica, mostram os bons actores que são, enchendo o ecrã e prendendo-nos a cada segundo. Li muitos dos romances de Sir Arthur Conan Doyle e vi incontáveis episódios da série protagonizada por Jeremy Brett. A imagem que temos de Sherlock Holmes é, apesar de extravagante, muito mais contida do que filme de Guy Ritchie, onde se ousa romper com essa ideia de Holmes que se foi, ao longo de anos, estabelecendo no sub-consciente de tantos.

Agora impera o exagero: na criação das personagens; na recriação visualmente exuberante de uma Londres vitoriana; nos cenários interiores desenhados ao pormenor e de uma arquitectura cuidada (o filme é cheio de “arquitectura”), no guarda roupa, nos adereços, nas explosões, e até no barulho e estrondos repentinos. O filme tem também um aspecto infantilmente lúdico e “clean”: não há mensagens morais, não há culpas a expiar, não há causas fracturantes nem grandes dilemas éticos, o que é, diga-se, um alívio. Não será uma obra-prima, mas surpreendi-me e diverti-me, coisa que nunca deve ser negligenciada.

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