“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

29.9.08

Cores de Outono 5

Claude Monet. (1840-1926).
Poplars at Giverny, Sunrise

O Desconforto do Óbvio

Ouvi na semana passada na Quadratura do Círculo sérias objecções por parte de Lobo Xavier e de Pacheco Pereira a todo o processo “Magalhães”: a montagem propagandística da distribuição encenada dos computadores, a falta de software que maximize a sua utilidade bem como permita algum controle parental, os custos que terão as ligações à banda larga, a pertinência e necessidade dos mesmos em idades tão jovens e no início do contacto do aluno com a escrita e a leitura, a falsa nacionalidade do “Magalhães”, e as sérias questões relacionadas com o financiamento desta operação de charme. Aqui faz-se uma espécie de condensação estruturada dos argumentos ouvidos. Eu queria só deter-me nas últimas objecções relacionadas com o financiamento, escrutínio na “compra” dos 500 mil computadores e na logística que requer montar, embalar e distribuir tantos computadores. Não porque sejam as únicas relevantes ou importantes, mas simplesmente porque são as mais fáceis porque muito objectivas, quantificáveis, visíveis e mensuráveis. António Costa foi incapaz de responder de forma clara a estas objecções hesitando e mostrando um evidente desconforto. Para ele os fins justificam os meios (quando era criança uma das primeiras definições que ouvi sobre o comunismo era a de uma ideologia em que os fins justificavam os meios) e saber qual a rubrica do orçamento que contempla esta despesa, ou como é que o governo dá o que não tem, ou tem, mas não se sabe de onde vem, ou saber se houve um concurso público ou não, são questões laterais, tais os benefícios da operação Magalhães e a originalidade e criatividade do governo ao trazerem para Portugal um programa desenhado para os países em desenvolvimento.

Enquanto contribuinte e eleitora sinto um enorme desconforto pela falta de transparência neste processo, e incomoda-me a falta de resposta – e a falta de quem insista em perguntar. Em Portugal continuamos a aceitar com lusitano fado este tipo de buracos negros envoltos em neblinas e com fundo musical de cantos de sereias quando o que está em causa é um uso pouco transparente, opaco diria mesmo, e abusivo dos dinheiros públicos. Eu sinto o desconforto do óbvio.


27.9.08

Pretextos

(1925-2008)

O último pretexto para colocar, com pretexto, mais uma fotografia de Paul Newman neste blogue. Daqui para a frente será sem pretexto, só com a nostalgia do que já foi. "Piercing blue eyes and laid back style" forever.


26.9.08

Caça às Bruxas



Se há algo que considero sinistro é qualquer espécie de caça às bruxas, sejam as bruxas quem forem: bruxas propriamente ditas, pessoas com deficiências que desequilibrem a “normalidade”, pessoas de outras etnias ou raças que tentem trazer o desconhecido para perto de nós, de outras opiniões, etc, etc. A discriminação é uma ideia, é algo do domínio da racionalidade (ou da falta dela) e parece algo que se discute, que se critica. Já a caça às bruxas, apesar dos pretextos sempre “justos” e explicáveis toma dimensões sobretudo viscerais. Caçaram-se ao longo dos tempos as seguintes bruxas: católicos, judeus, protestantes, mulheres de sensibilidade “diferente”, pretos, índios, comunistas, fascistas, colaboracionistas, muçulmanos e tantos mais... Hoje, a caça às bruxas é mais sofisticada, mais metonímica, por exemplo, tomando-se os produtos pelas pessoas, mas faz sempre apelo às vísceras.

Só assim se pode explicar uma capa como a de hoje do jornal Público: de um produto chinês, uma bebida de leite a fazer “la une”. Só assim se pode explicar que hoje de manhã na rádio a notícia sensação tenham sido os caramelos chineses nas lojas chineses que escapam ao controle da AESE, essa grande ameaça à saúde pública europeia. Alguém, no seu perfeito juízo acredita em tal coisa? Hoje os caramelos chineses, iogurtes e bebidas lácteas – eufemismo para “os chineses”, são alvo de caça às bruxas. Ich bin ein Chinesisch Karamell!

25.9.08

Dias de Verão 9

André Derain. (1880-1954).
Landscape near Cassis

Da Periferia da Periferia

José Sócrates ainda parece mais postiço, e ainda parece mais um elaborado produto de um complicado programa inovador e cheio de tecnologia de fazer políticos, quando fala da crise económica e dos mercados financeiros. Nas poucas frases que ouvi na televisão há pouco saltam à vista (ouvido) e surpreendem (ou não) o uso de banalidades e demagogias que um primeiro-ministro informado não deveria sequer pensar em dizer; frases do género (cito de cor): “A ganância que preside a atitudes mais especuladoras", ou ”É inacreditável o que se está a passar” (referindo-se à crise financeira Norte Americana), ou “A Europa vai pagar a crise” (Norte Americana, claro) e “vai pagar a ausência de escrúpulos e a falta de regulamentação dos especuladores Norte Americanos”. O que me parece inacreditável é que um primeiro-ministro use a palavra “especulador” como qualquer militante comunista ou como um sindicalista radical usariam, como se fosse a encarnação de um espectro de forças negras, fantasmagóricas e maléficas da ganância capitalista. Isso não é um especulador. Exige-se um pouco mais de um primeiro-ministro.

José Sócrates, e tantos europeus, parecem esquecer-se que, fosse a Europa uma grande potência económica e financeira, a crise Norte Americana não nos afectaria tanto. A Europa é cada vez menos uma potência relevante no xadrez internacional e essa realidade é que custa aceitar, bem como custa ser lúcido em relação ao porquê da perda cada vez maior de influência da Europa.

Estas declarações de José Sócrates não só mostram, mais uma vez, o político superficial de chavões que ele é e a sedução que a propaganda exerce sobre ele, como mostram a dependência deste nosso país periférico numa Europa cada vez mais periférica. Tomara ela (Europa) ter uma pequena fracção da vitalidade norte-americana, mesmo em momentos de crise.


Embargo total a produtos vindos da China” (ouvido num noticiário televisivo) Pela frase nota-se o prazer de “cá” de finalmente ter um pretexto sólido para proibir algo que venha da China conspurcar o mercado europeu. Note-se, no entanto, que este “total” que dá o pathos à frase refere-se apenas aos produtos lácteos (mais de 15% na sua composição) e que apresentem um potencial perigo para as crianças. É certamente uma medida necessária, mas o velho proteccionismo espreitou nos interstícios retóricos.
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Oh não! Hoje entregam-se computadores aos polícias. Amanhã aos taxistas com GPS incluído? E quem mais estará na lista, agora que percebo que existe uma lista?

23.9.08

Na dúvida

Ontem. Não sei o que é.
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A privilegiada vista sobre o Tejo de que desfruto tem feito de mim uma “vessel watcher”. Ao contrário do “Bird Watcher” que sobe montes, percorre territórios e espera pacientemente munido de binóculos, máquina fotográfica e livros da especialidade cheios de gravuras, eu sou uma “vessel watcher” absolutamente passiva pois nada procuro, só só tenho que virar a cara em direcção ao rio, e em momentos especiais pegar nuns binóculos de longo alcance entretanto comprados, e na máquina fotográfica. Guardo uma colecção enorme de fotografias do rio, como pode perceber quem visita o Hole Horror, bem como de barcos à vela, navios, fragatas, porta aviões, submarinos, paquetes de dimensões espantosas. Os barcos à vela são os meus preferidos e os mais elegantes. Poderia ser uma “vessel watcher” malgré moi de tal forma o rio entra pela varanda dentro, mas não sou. Gosto de olhar o rio, ver a luz que muda conforme a estação do ano, as subtis diferenças da cor que muda com a meteorologia, a textura da superfície da água e também olho sempre curiosa as embarcações que o sobem, que saem, que passeiam. Nesta minha actividade contemplativa (e muito passiva) dou comigo a fotografar não só o rio e a sua foz, como qualquer embarcação mais interessante (o critério que define interessante é absolutamente aleatório e subjectivo, diga-se).

Ora, no exercício desta minha actividade, ontem deparei-me entre as brumas do rio com a embarcação cuja fotografia incluo. Pareceu-me primeiro um porta-aviões, nada que impressione como o USS Enterpsise que, creio, estacionou por cá em 2006, mas algo mais pequeno. Depois esqueci essa ideia por não me ter parecido ter dimensão suficiente para tal. Fiquei na dúvida . Se alguém souber e quiser fazer o favor de me elucidar através do e-mail que está no cimo da página, eu agradeço.

Adenda: Entretanto um leitor atento informa-me que um olhar mais demorado da fotografia o leva a concluir tratar-se de um navio anti-missel armado com baterias e radares de proximidade e um porta-helicópteros. Obrigada pela simpatia.

21.9.08

Coisas que se podem fazer ao Domingo 28

Aristide Maillol. (1861-1944).
Desire

Desejo?




Ontem entre zappings televisivos e no mesmo instante em que vi José Sócrates em Guimarães atrás de um púlpito no qual estava desejado um enorme slogan “A Força da Mudança”, ouvi uma parte do discurso em que surgiu a palavra “mudança”.

A previsibilidade destas encenações e deste “plástico” político – neste caso de nítida e demasiado óbvia inspiração obamiana como se diz aqui - deixa-me cada vez mais perplexa de como é possível que o nosso primeiro - ministro continue, aconselhado por sábios do marketing político, a tentar sem resultados como sabemos quando pensamos um pouco, transformar a todo o custo em ideias para o país e em projectos políticos, qualquer slogan mais vendável. Slogans são slogans, são palavras que ficam no ouvido, não são ideias nem projectos políticos coerentes, necessários, pensados e planeados. Para que as ideias e projectos políticos para o país sejam fazíveis e viáveis há que conhecer o país e os portugueses. Como já todos percebemos, José Sócrates não conhece nem Portugal nem os portugueses, tomando-nos a todos por parvos; se uns não dão por isso, outros não gostam e, utilizando a frase imortalizado pelo Almirante Pinheiro de Azevedo, até diria “É uma coisa que me chateia, pá!”. Para a "mudança" o melhor mesmo será não votar nele.

19.9.08

Anti-oxidante



Há duas semanas vi o Mamma Mia!. Há uma semana vi o Mamma Mia!. Esta semana vou ver o Mamma Mia!. Farei este tratamento seis semanas consecutivas e abdicarei do complexo multivitamínico que se toma nas mudanças de estação. Acho que terá o mesmo, senão ainda melhor, efeito: anti-oxidante.

(Homens desenganai-vos! O filme é também para vós, e o efeito anti-oxidante é garantido.)

(By the way, Meryl Streep merece mais uma nomeação.)

Queen Mary 2 - Hoje
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18.9.08

Da Culpa 2

Quem lê este blogue sabe da pouca simpatia e, nalguns casos, da relativa indiferença aqui manifestada pelas chamadas “causas fracturantes”. Em relação à nova lei do divórcio no entanto, acompanho a linha do governo. Talvez por motivos distintos pois o governo, na onda fracturante em quer sobretudo piscar o olho a uma certa esquerda de causas, vai facilitar a vida a quem se quer divorciar “unilateralmente”. Mas, como diz o provérbio, se “quando um não quer, dois não brigam”, em última análise também se poderá dizer que “quando um não quer, dois não continuam casados”. Parece ser um facto da vida. Ponto. Não querendo cair no pano de fundo facilitista e relativista que de mansinho se vai instalando nas nossas sociedades com estas causas mais radicais, gosto desta nova lei. Gosto que o Estado não seja zelador dos problemas amorosos, por excesso ou defeito, dos cidadão, nem tão pouco dos seus dilemas morais de quebras de promessas, ou mesmo religiosos no caso do catolicismo (o mais comum) pelos dilemas sacramentais (o matrimónio é um sacramento, lembro), gosto por isso que o Estado seja pragmático permitindo e legislando eficazmente o que é hoje um facto normal e um acto corrente: o divórcio. Claro que é importante proteger o lado mais fraco, palavras subtis que querem dizer simplesmente a pessoa que menos recursos financeiros tem e cuja dependência financeira do outro é maior, normalmente a mulher que abdica de uma carreira mais ambiciosa e agressiva para ter disponibilidade para a família: o marido e os filhos. Noções como “culpa” ou “divórcio litigioso” (que em última análise é já um pleonasmo) não deviam fazer parte do léxico jurídico do divórcio no séc. XXI. Nunca vi que a culpa e que os longos divórcios litigiosos trouxessem proveito a seja quem for que directa ou indirectamente (os filhos) esteja envolvido em tal processo. Vejo, vemos todos, exemplos suficientes do que disse e vejo, vemos todos, os filhos de casais que se divorciam litigiosamente entre argumentos de “culpa”, insinuações e acusações mútuas em que mais não se descobre do que a miséria humana por todos partilhada, respirarem um ar pouco sadio feito de ressentimentos e acabarem tantas vezes como instrumentos de arremesso de um progenitor ao outro. Acabar com “culpas” e litígios talvez seja um começo para um ar menos podre entre quem se divorcia.

Nunca até hoje eu percebi que a parte mais fraca fosse protegida pela lei existente com a sua culpa e com o seu litígio. Mais do que uma lei, é uma mentalidade que se tem que mudar, é a necessidade de instituir rotinas de negociação de acordos bem como fiscalização do cumprimento dos mesmos. Os males do coração só o tempo poderá curar, não cabe ao Estado punir quem parte corações, deixa de sonhar no futuro a dois, trai expectativas ou fere orgulho, assim como não cabe ao Estado emendar corações partidos ou reparar ilusões desfeitas, mas cabe-lhe zelar para que as partes mais fracas tenham os meios justos para viverem com a dignidade com que viviam. Quem quebra contratos indemniza. Salvaguardar este aspecto é o maior contributo para que tantas e tantas mulheres não se vejam numa situação financeira alarmante para o resto das suas vidas e para que tantas deixem de criar sozinhas filhos anos ,quantas vezes sem contributo financeiro de ex-maridos, e processos no tribunal de família que nada conseguem fazer.

Hoje de manhã muito cedo
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16.9.08

Plataforma contra a Obesidade 42

Paul Cézanne. (1839-1906).
Still Life with Ginger Jar, Sugar Bowl, and Oranges.


Dos Guias de Viagem

Não tenho muita experiência de Guias de Viagem, uma dúzia de Michelins verdes cheios de mapas e detalhes de arquitecturas de outros séculos, e um pouco mais de uma dúzia daqueles do American Express, simpáticos, coloridos, algo confusos e cheios de óbvio, são a totalidade do meu espólio. Sempre preparei muito mal – que é o mesmo que dizer, nada - as viagens que fiz. Aborrece-me ler sobre o que vou visitar, parece o mesmo que ler o último capítulo do livro quando ainda nem o começámos. Assim dou comigo in loco a ler sobre o que vejo e perceber que não tenho tempo nenhum para ver isto ou aquilo, que afinal são ex-libris do local e coisas fundamentais. Fico contente por saber que não vi, pois é sempre melhor do que não saber de todo, e fico contente pelo pretexto para regressar. Quero sempre regressar, desta vez, já sem inocência como quem relê um livro ou revê um filme, regressar para ver o que não vi e saborear o que primeiro espantou. Também tenho tido a sorte de regressar algumas vezes.

Mas nada, nada é tão forte do que procurar na Malásia as plantações de borracha que lemos na juventude em Somerset Maugham, procurar a China da adolescência aprendida entre os livros de Pearl Buck, tentar descobrir em Bath as personagens de Jane Austen. Foi com os romances que fiz as primeiras viagens, vi paisagens longínquas, cheirei odores espantosos, senti humidade dos trópicos, a areia do deserto ou o vento frio e seco do norte. Conheci gentes bizarras de costumes estranhos, famílias polígamas, mulheres que viviam separados dos homens, e rigidos rituais para casar. Antes de saber História, já sabia as histórias. O mesmo se passou com alguns filmes clássicos: antes de saber do Desembarque de 1944, já tinha visto O Dia Mais Longo, e nas praias da Normandia procurava os soldados que vi no filme. Posso ainda não conhecer os locais, mas eles já existem em mim, e parece que procuro nas terras novas que vejo a nostalgia dos romances lidos.

Aliás, pensando bem, talvez não seja só nas viagens que a nostalgia dos romances lidos é procurada.

15.9.08

A Espuma dos Dias que foram 12

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All That's to Come

...
All that is now
All that is gone
All that's to come
And everything under the sun is in tune
But the sun is eclipsed by the moon.

Dias de Verão 8

Charles-Louis Müller (1815-1892)
Le Bain de Mer



Não deixa de impressionar ver este pequeno vídeo, mas há algo que salta logo aos olhos: a diferença abissal entre Portugal, e diria até a Europa Continental, e os Estados Unidos e Grã-Bretanha onde se vive numa economia muito menos intervencionistas. Estas imagens de empregados de colarinho branco a saírem às centenas dos bancos nos EUA e na Grã-Bretanha, com caixas com objectos pessoais seriam – arrisco a dizer – impossíveis no nosso país, e isso não é necessariamente uma coisa boa. Já há quem classifique esta segunda-feira como um dos dias mais negras nas finanças americanas (ver também este vídeo da BBC) que promete não acabar por aqui.

11.9.08

A Espuma dos Dias que foram 11

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O Expresso da Meia Noite

Ao longo dos anos que não me habituo a ver o anúncio na SICN do programa “Expresso da Meia Noite”, e pasmo como é que ele se mantém inalterado e nunca ninguém se indignou com ele. O título do programa liga-o ao jornal Expresso uma vez que revela a manchete do dito, aliviando aqueles portugueses que não conseguem aguentar a tensão e a expectativa em relação à edição do Expresso do dia seguinte, é revelador de um estilo cúmplice que o anúncio explora ao exagero. A imagem dos dois jornalistas que conduzem o programa de debate, em conversa cochichada e risinhos cúmplices, é a pior imagem de jornalismo que se pode dar ao cidadão comum, pois desacredita-o da seriedade da profissão. No entanto esta é a imagem infelizmente tão aceite e tantas vezes tão real.

Jornalismo não deveria ser (como o anúncio do programa ilustra) conversa cochichada entre dois interlocutores, sempre propícia à criação conspirativa quer de confidencialidades múltiplas quer de factos e/ou de tabus que se faz em gabinetes diversos e nas redacções dos diferentes meios de informação. A recolha, compilação, estudo, escrutínio e tratamento da informação nada deveria ter de cochichado, mesmo quando nas alturas em que deve ser discreta ou até confidencial. Insistir na imagem do jornalismo cochichado é insistir nessa nuvem pantanosa que nada tem de sobriedade onde são geradas mais ou menos espontâneamente e onde fervilham as notícias que enchem os diferentes tipos de jornais, que por vezes não são a informação pertinente, e que não se sabe bem nem de onde vêm nem para o que vêm e que nos fazem sempre perguntar ao serviço de quem, ou de o quê, é que são feitas.

Debate político, ou debate sobre outros temas da actualidade, também não deveria ser um somatório de risinhos cúmplices bilaterais com eventual desdém por quem não partilha a cumplicidade, tal como a imagem do anúncio sugere, dando-nos uma ideia de algo fechado e limitado em que o preconceito existe. Ora um debate deveria ser o contrário: um espaço que se quer aberto, transparente e exigente porque isento de preconceito e onde impere a todo o momento um rigoroso respeito pelo outro e pela sua opinião mesmo quando diametralmente oposta à da maioria. O combate é feito com argumentos e não entre pessoas coisa que risinhos cúmplices deixam dúvida.

As coisas são o que são, e sugerem o que sugerem. Duvido que este anúncio sugira algo muito diferente do que aqui se escreve. E é uma infelicidade para a estação que se quer de notícias e para os jornalistas que o fazem. Talvez andem todos distraídos e nunca tenham reparado.

8.9.08

A Espuma dos Dias que foram 10

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6.9.08

Hoje de manhã
(Clicar para aumentar)

A Espuma dos Dias que foram 9

Continuação do post Espuma dos Dias que Foram 7, ainda uma breve colectânea de ideias, frases, cabeçalhos de jornais, declarações, comentários, ecos ouvidos e/ou com distracção e entre coisas dessas que se fazem em férias, mas que vão ficando à espera de serem organizadas à medida que a vida vai retomando as suas rotinas e os seus hábitos.

Sarah Palin foi Miss Alasca, mas parece saber falar o que aparentemente incomoda alguns.

Angola tem eleições mas não deixa que jornalistas portugueses ligados a certos grupos de imprensa possam lá ir e fazer a cobertura das ditas eleições.

A China deu por encerrada a maior e mais eficiente encenação de sempre: os melhores Jogos Olímpicos de sempre. Dizem.

Os silêncios de Manuela Ferreira Leite continuam a incomodar e passam a ser devidamente dissecados, analisados interpretados...

Luis Filipe Menezes comopara-se a um Ferrari para gaúdio e gozo de alguns comentadores.

Os fogos de verão, tal como as palavras de Manuela Ferreira Leite, foram os grandes ausentes este verão dos noticiários televisivos e dos seus emotivos e uteis directos.

Putin mexe-se com segurança felina e o à vontade de uma raposa enquanto os galos batem as asas e cacarejam na capoeira.

Paulo Pedroso e o cada vez mais estranho caso Casa Pia: onde se ganham causas sobretudo processuais, pois as investigações, ao que o tempo que passa indica, mais uma vez falharam (no alvo, no método, nos objectivos, eu sei lá) continuando a não encontrar os culpados que todos acreditam existirem - até ao dia em que são nomeados (isto é: pôr um nome, dar uma cara) suspeitos que no segundo a seguir invariavelmente são inocentes e vítimas de conspirações que ninguém sabe se existem - pois as vítimas essas, todos são unânimes em assegurar e lamentar, existem mesmo e que necessitam que se faça justiça.

5.9.08

A Espuma dos Dias que foram 8



Exemplos de fauna e flora locais.

A Espuma dos Dias que foram 7

As férias (conceito lato em que muitas vezes o que lá cabe não é mais do que uma deslocação física e uma vida desfocada que a ausência de horários e rotinas permite) são propícias a algum estupor nomeadamente no que diz respeito à preocupação com o que se “vai passando” pelo país e pelo mundo, embora se apanhem e permaneçam alguns ruídos, frases soltas, nomes, declarações, locais ou outro tipo de referências, quase sempre fora do contexto e à espera que o regresso à normalidade organize e ordene, se possível. Assim, acabada de chegar desse mundo desfocado, darei conta sem ordem nem organização, de algumas notícias e faits divers dispersos que soaram como quem ouve um eco longínquo e insistente. Palavras que permaneceram enquanto esperam contexto e ordem.

Manuel Pinho e Catherine Deneuve no Allgarve.

Marco Fortes, que de manhã gosta mesmo é de caminha, regressa mais cedo de Pequim.

O Presidente do Comité Olímpico Português, Vicente Moura, não se vai recandidatar, mas afinal uns dias depois e já com uma medalha de ouro para Portugal afirmou poder reconsiderar decisão e provavelmente recandidatar-se-á.

Mário Lino compensa o Oeste pela escolha de Alcochete.

Michael Phelps depois das oito medalhas de ouro também se deixa tentar pelo Allgarve e pela inevitabilidade de um encontro com Manuel Pinho.

Manuela Ferreira Leite teima em não falar, para incómodo de tantos.

Os Jornais da Noite da SIC terminam sempre com um retrato da mais pura banalidade e do mais puro mau gosto numa rubrica de televisão feita por todos e para todos a que chamaram “O Melhor e o Pior do Verão”. Coisa detestável.

Assaltos e mais assaltos. Criminalidade e (in)segurança. Operações policiais aparatosas preparadas em segredo e em simultâneo, e com meios vistosos em que se apreendem meia dúzia de coisas.

(Continua)

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