(Clicar para aumentar)
“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com
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31.10.08
Afinal não Somos Parvos
(...) a eficácia de uma máquina de propaganda depende antes de mais nada da disciplina política. O que Sócrates conseguiu foi impor uma disciplina, e uma disciplina severa, ao Governo, à burocracia e ao partido. Como no comunismo clássico, Sócrates tem uma "linha" sobre qualquer assunto que interesse à saúde e sobrevivência da maioria. (...) Por natureza, a "linha" não pode "dar" muita informação. Se "desse", não entrava na cabeça dos gnomos que a repetem e, principalmente, do público em geral. Para cada pergunta (...) basta uma resposta: simples, curta, final. Não é grave se a resposta for falaciosa ou hipócrita, ou não for, como costuma suceder, resposta nenhuma: a insistência, a convicção e a unanimidade acabam sempre por convencer os tolos.
VPV no Público de hoje
Este diagnóstico parece ser uma explicação convincente do porquê da minha revolta, e de outros tantos, que constantemente sentem que os estão a tomar por parvos com um desplante e um descaradamente que até agora nos era desconhecido. Afinal não somos assim tão parvos, resta-nos esse consolo pelo menos, já que vivemos tantas vezes sem percebermos nessa espiral centrípeta de nada e de vazio que nos atordoa. Tudo se reduz a um ou dois chavões, fáceis de entrar na cabeça, algo próximo da lavagem cerebral, creio. Vale a pena ler todo o artigo.
VPV no Público de hoje
Este diagnóstico parece ser uma explicação convincente do porquê da minha revolta, e de outros tantos, que constantemente sentem que os estão a tomar por parvos com um desplante e um descaradamente que até agora nos era desconhecido. Afinal não somos assim tão parvos, resta-nos esse consolo pelo menos, já que vivemos tantas vezes sem percebermos nessa espiral centrípeta de nada e de vazio que nos atordoa. Tudo se reduz a um ou dois chavões, fáceis de entrar na cabeça, algo próximo da lavagem cerebral, creio. Vale a pena ler todo o artigo.
29.10.08
Simples e Transparente
Ao ler o parágrafo final deste post percebi que não ía resistir a escrever sobre o “valor” das empresas cotadas em mercado de capitais. O valor de mercado é um valor “fair” no sentido de transparente e justo: transparente porque reflecte toda a informação existente num determinado momento sobre a empresa que está a ser transaccionada e justo porque é o preço acordado entre ambas as partes, isto é, entre quem vende e quem compra. Se o preço reflecte toda a informação sobre a empresa ele também reflecte: a sua “dimensão real” que é um conceito algo vago onde poderíamos incluir os activos (e passivos) e as perspectivas de crescimento futuro da empresa - intervenção da Porshe; reflecte também a sua produtividade, conceito também vago que tomarei como resultados, que são dados pelos mapas contabilísticos e financeiros divulgados periodicamente (as empresas cotadas são obrigadas a darem ao mercado essa informação); reflecte também a sua competitividade através da comparação dos seus resultados com outras empresas do sector. O valor de mercado não é algo abstracto nem subjectivo, nem uma ideia vaga ou um capricho de meia dúzia de especuladores gananciosos, é justo porque é o valor pelo qual, num determinado dia, alguém está disposto a vender um determinado activo e outro alguém disposto a comprar esse mesmo activo. Nesse dia o preço da VW no mercado financeiro alemão reflectiu toda a informação mais depressa que o Spiegel, que só à posteriori o analisou e explicou: num determinado dia houve pessoas obrigadas (porque voluntariamente assumiram compromissos de compra e assumiram os riscos daí associados) a comprar e poucas a querem vender. A simples lei da oferta e da procura aponta o resultado: a subida do preço. Se ninguém tivesse querido comprar, o preço não teria subido e ter-se-ia mantido. Simples e transparente.
28.10.08
Atributos para uma Mulher
‘In the arts of staining, dyeing, colouring and painting her teeth, her clothes, her nails and her body a woman should be beyond compare,’ the emperor said, his speech now sluggish with lust. (…) ‘A woman should know how to play music on glasses filled to different heights with liquids of various sorts’ (…) ‘ She should be able to fix stained glass into a floor. She should know how to make, trim and hang a picture; how to fashion a necklace, a rosary, a garland or a wreath; and how to store or gather water in a aqueduct or tank. She should know about scents. And about ornaments for the ear. And she should be able to act, and to lay on theatrical shows, and she should be quick and sure in her hands, and be able to cook and make lemonade or sherbet, and wear jewels, and bind a man’s turban. And she should, of course, know magic. A woman who knows these few things is almost the equal of any ignorant brute of a man.’
Salman Rushdie, “The Enchantress of Florence”
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A ligeireza e ignorância quer em termos gerais, quer no que diz respeito ao Portugal real (distante desse país ficcional ao qual ele sempre se dirige e para quem o seu governo age) de José Sócrates são bem patentes na forma como ele, já assumidamente em campanha eleitoral, lida com a crise. Ora uma crise financeira e económica desta dimensão (em duas vertentes não dissociáveis, porque representa uma enorme convulsão e porque é global) é incompatível com a estratégia de campanha eleitoral preparada há meses nas suas agências de comunicação e de marketing político em diálogo com os gabinetes. José Sócrates não está a saber fazer a adaptação dessa estratégia ao Portugal real num mundo real. Manuela Ferreira Leite lembrou bem.
27.10.08
Praxes e Praxis
Há umas semanas que se ouvem e lêem rumores sobre as praxes académicas, hoje o que li aqui leva-me a esta breve reflexão. Nunca percebi estas praxes, a sua necessidade e a desculpa que usam, para justificar tanta estupidez e animalidade, de dizerem que era tradição. Também era tradição queimar hereges, chicotear gente, era tradição a pena de morte, a escravatura. Também era tradição ler à luz da vela, não mandar sms e não usar computadores nem fazer filmes para o youtube. Não há argumento que me faça ver como bons estes comportamentos e estas praxes feitas de irracionalidade num auge da estupidez humana, e de excesso premeditado e delineado em grupo. O excesso para ser “simpático” (partindo do principio que há consentimento e que ninguém é lesado, claro) tem que ser espontâneo, feito no calor do momento, algo que na altura parece ser impossível de conter, senão o excesso rapidamente toma a dimensão do abuso, da violentação, da violação. Realmente não entendo que meio é esse o da nossa academia (a inteligenzia nacional) que olha com complacência estes abusos e violências e se permite tanta estupidez humana. Se é assim nas casas do saber, das “elites” como será num meio popular, perguntamo-nos. Creio que a Lei deve ser implacável, e que o tempo da complacência e do fechar de olhos e encolher de ombros “são jovens” deveria acabar. Há tantas maneiras de fazer praxes, há tantas formas de divertir que não percebo o porquê deste retrocesso civilizacional que todos os anos acontece no início do ano lectivo académico.
26.10.08
24.10.08
As Palavras e as Circunstâncias
Manuela Ferreira Leite tem imposto um estilo comunicacional diferente do esperado e do habitual e certamente a anos luz do estilo do nosso Primeiro-Ministro. Este último fala para preencher quotas de “comunicação política”, MFL fala quando sente que tem alguma coisa para dizer. Não sei se a estratégia de MFL será sempre a melhor, mas é a dela e por isso mais genuína do que a de tantos políticos como José Sócrates sobretudo agora em fase pré-eleitoralista. Se se sente MFL às vezes ausente, diria mesmo alheia no quotidiano, JS é omni-presente multiplicando-se em anúncios, explicações, declarações slogans e frases encomendadas já pré-elaboradas.
Não sou adepta da teoria que faz de quem pouco fala um poço de sabedoria e que obriga a silêncio atento para ouvir as suas palavras raras, conheci aliás uma pessoa de poucas palavras que conseguia manter em silêncio referencial quem o rodeava e aguardava ansiosamente as palavras raras, que por acaso eram de uma banalidade e estupidez confrangedora. Neste caso a raridade não faz a preciosidade, mas o depuramento comunicacional bem como o facto de ser um estilo genuíno tem algum benefício: percentualmente menos asneiras são ditas, somos poupados a propaganda feita de frases e slogans medidos e estudados por profissionais da comunicação e cujo som final já adivinhamos, e não somos bombardeados constantemente com ruído comunicação e banalidades políticas que já ninguém respeita nem, sendo o caso, acredita. No entanto a outra face desse depuramento é a tendência, tão visível nos média e nos comentadores políticos, a confundir as palavras com as circunstâncias: mais do que analisar o que se diz, analisa-se o silêncio, o que se não disse, o porquê (parece incrível como é que) de não ter dito sobre isto e sobre aquilo e o porquê de (logo agora que ninguém se lembra) de se dizer o que se diz. Terreno minado e puramente especulativo para gáudio de alguns e aborrecimento de tantos.
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Comunicação Social,
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22.10.08
Intelligence is Relative
Burn After Reading com um adequado sub-título Intelligence is Relative, é certamente um dos melhores filmes sobre nada que já vi. Ou, se assim quisermos chamar, um hino à estupidez - se não fosse a estupidez, como lhe convém, levar ao caos e desastre. Entre o riso e o arrepio, vamo-nos espantando e divertindo relaxadamente com o virtuosismo dos irmãos Cohen que nada deixa ao acaso. Divertem-se a fazer filmes e divertem-nos a nós: com uma câmara cirúrgica, personagens idiotas e básicas servidas por magníficos actores, pormenores pensados ao milímetro, nada lhes escapa e nós entretemo-nos a olhar o cabelo de Brad Pitt, os tiques das personagens sempre no limite do “too much”, os detalhes de cada cena, a da consulta ao cirurgião plástico ou a da Embaixada Russa, são verdadeiros “bijoux”, e os diálogos como o da cena final, são delirantes. Nada escapa ao virtuoso, tudo tem o seu lugar, tudo encaixa em tudo, e nós percebemos que é nada e que de nada se trata. No fim a sensação de rir de nada, de ter visto nada e de gostar de nada.
20.10.08
Antes que o Diabo Saiba que Morreste
Depois de ter lido este post fiquei com vontade de ver o filme “Antes que o diabo saiba que morreste” (título espantoso). Confesso a minha perplexidade por não ter visto publicidade ao filme e por ele estar tão discretamente nas salas de cinema, não entendo; merecia mais pois também o considero seguramente um dos melhores filmes que vi ultimamente, de um classicismo sólido e limpo apesar de insólito. O seu lado negro vem de uma intenção perversa à medida dos “tempos actuais” que corre mal e cuja situação já nenhum personagem domina, impondo-se o destino na ineveitabilidade de pulsões básicas, bem como de algum insólito formal de uma cronologia não linear feita em colagens dando a visão de cada uma das personagens, todas elas bem desenhadas. Os actores têm (já esperava) intrerpretações notáveis, e confesso o imenso prazer de ver um filme bem construído, sóbrio, frio, mas intenso e de me encontrar frente a frente com o cinema de que gosto. E já nem me lembrava que Sidney Lumet existia.
19.10.08
Bidimensionalidade
Passos Coelho e o seu círculo mais próximo reagiram com algum nojo à sugestão e à possibilidade de uma candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. Parece estranha esta aversão à disputa democrática de lugares elegíveis e que requerem votos de cidadãos normais e não só de militantes partidários. Passos Coelho, ao contrário de Santana Lopes, para citar um exemplo, parece querer chegar à liderança partidária sem arregaçar as mangas, sem ir à luta num percurso político linear e bidimensional que considero pobre. Disputar lugares, nomeadamente a presidência de uma câmara, parece ser uma forma de arregaçar de mangas, de ir à luta, de experimentar o julgamento dos cidadãos, de fazer curriculum, que dá uma diversidade de experiências, um crescimento político e uma pluridimensionalidade ao percurso de alguém que ambiciona um lugar decisivo na estrutura do poder. Deslizar para o topo é de uma artificialidade e superficialidade notória porque para o topo não se desliza, escala-se, conquista-se, num movimento que poucas vezes é linear. Cavaco Silva ganhou, perdeu, voltou a ganhar. Santana Lopes já praticamente ganhou e perdeu de tudo, Rui Rio, um candidato “para perder” acabou ganhando, Carrilho acabou perdendo, Mário Soares ganhou e perdeu e ganhou e perdeu, até José Sócrates, enquanto ministros do ambiente, quis marcar posição fazendo apostas e arriscando novas políticas e novas soluções. No estrangeiro perder eleições é um acto tão nobre quanto ganhá-las e um acto que ajuda a marcar posição e segurar o terreno preparando as futuras vitórias. Porque é que há em Portugal este nojo por concorrer a uma cargo em incerteza? Se ganhar, (e porque não?) é uma conquista importante de um lugar a fazer, de uma voz que se quer mais forte, de uma experiência que amadurece; se perder, fica a posição que se marcou, o risco que se abraçou, a luta que se fez e a certeza de que nunca nada se perde.
17.10.08
Espiritualidade Pronta Para Consumo
Há uns dias reparei num anúncio de “Meditação Católica”, colocado numa das grandes e movimentadas paróquias da cidade de Lisboa em que convidavam os potenciais participantes a experimentar a meditação católica. É extraordinário ver o que a globalização e o marketing fazem. O que era, e é, vulgarmente conhecido como rezar o terço, para dar um só exemplo, brevemente arriscar-se-á a ser algo próximo de uma recitação de mantras ou uma busca introspectiva do verdadeiro eu, ou um re-equilíbrio com as energias do universo, ou qualquer um desses chavões new-age. Não tenho rigorosamente nada contra a meditação, e reconheço-lhe grandes benefícios, mas parece que precisamos do que nos vem de fora para descobrir e (re)conhecer o que temos cá dentro. A Religião Católica tem uma vastíssima tradição quer na área mística, quer na área contemplativa que tem sido desprezada por uma sociedade virada para pragmatismos, sentimentalismo descartável, sucesso e gadgets. A procura da espiritualidade e de algo “diferente” por tantos que se dizem cansados desta forma de vida, levou-os a locais distantes e abriu a porta a outras tradições espirituais que chegam aqui com o entusiasmo da coisa nova. Ainda bem, e que o entusiasmo não esmoreça como acontece tantas vezes com as coisas novas. Mas reconheça-se que rezar um terço não é uma técnica de meditação, embora possa ser, para escândalo de muitos, igualmente benéfico. Contemplação e oração vêm de uma tradição espiritual diferente da meditação, ambas buscam uma vivência espiritual mais intensa, mas que se reconheçam as diferentes tradições evitando um melting pot amorfo de uma espiritualidade de consumo.
15.10.08
Do Medo e da Tentação
Depois de ler esta notícia, e depois de passada a tentação do “bem me parecia!” instala-se em mim o conforto de ver a ordem das coisas reposta. Pode parecer perplexo, mas a confiança nos mercados não volta com planos dos estados, com mais estado, nem com medidas de emergência e reuniões “ao mais alto nível”. Sinto-me pouco hábil para julgar da pertinência de tratamentos de choque que estanquem a hemorragia de uma ferida, mas sei que isso não cura a ferida. Sei que é o medo que preside a essas medidas, pois elas são propícias ao despoletar do medo e de medos, só que o medo é uma reacção humana e não uma reacção de mercado. Os mercados não têm medo de nada: nem do “bull” nem do “bear”. A “crise” não se vai esconder debaixo do tapete, e a confiança dos agentes financeiros não se restaura com medidas exteriores. Ver que a euforia dos últimos dias parou é como que sentir que a poeira das medidas de emergência está a assentar e ordem se repõe, que agora sim, as coisas parecem estar em consonância com o que têm que ser e não com o que se gostaria que fossem. E como diz o ditado, “o que tem que ser tem muita força”. Por muito que custe, e custa, esta “crise” tem que fazer o seu percurso, os mercados têm que se refazer, que encontrar e renovar a sua confiança, têm que passar por este ciclo, que de ciclos é feito o mercado (e a vida). Não acredito que isto aconteça em dois ou três meses, e pensar assim é não ser realista e não conhecer o mercado. Tão pouco acredito que muita intervenção estatal resolva a “crise”, talvez ajude a estancar a ferida, mas não cura. Demasiado estado é pouco compatível com a liberdade inerente ao mercado. Então em países pequenos e muito circulares (o ponto de chegada é tantas vezes o ponto de partida) como o nosso persistir em estender os tentáculos do Estado é perigoso para a liberdade dos cidadãos. Imagine-se só, com a máquina fiscal que hoje temos, a mão presente do estado no sector da banca... É demasiada tentação.
13.10.08
Vi ontem o regresso dos Gatos Fedorentos À SIC. Soube-me como sabe comer à Segunda-feira os restos ressequidos do Cozido do Domingo, e só me lembrava do velho provérbio que diz que nunca se deve regressar ao lugar onde se foi feliz. Mas a tentação...
Os mercados asiáticos não abriram em baixa. E só me lembrava da velha frase “I should have known better” do que fazer destes (e dos outros) prognósticos. Mas o cepticismo é também uma tentação. Veremos como corre o dia.
Os mercados asiáticos não abriram em baixa. E só me lembrava da velha frase “I should have known better” do que fazer destes (e dos outros) prognósticos. Mas o cepticismo é também uma tentação. Veremos como corre o dia.
12.10.08
Os governos da zona Euro já chegaram a acordo sobre “estratégia comum” para responder à crise muito séria dos mercados financeiros que abala as economias europeias. Em Portugal já se disponibilizaram 20 milhões de euros em forma de garantias para estimular actividade bancária. Todos consideram as medidas intervencionistas por parte dos estados bem vindas. Já nas semanas anteriores medidas semelhantes foram tomadas, nomeadamente nos EUA com o Plano Paulson e outras injecções de moeda quer nos EUA quer na UE. Todos esperam estas medidas, todos as aplaudem. Todos menos o mercado que teimosamente se mantém a descer. Se a crise é de falta de confiança, então estas medidas estão longe de darem a confiança necessária ao mercado. Talvez os mercados não gostem de intervenções estatais. Veremos como abrem os mercados amanhã, olhemos para os mercados asiáticos, os primeiros a abrirem. Eu confesso o meu cepticismo em relação a estas intervenções.
11.10.08
O Blogue, Os Blogues e o Mundo
Já são mais de dois anos a fazer este blogue. As semanas sucedem-se a um ritmo impiedoso e reparo que escrevo sempre menos do que o que gostaria e menos do que quereria. Mas mesmo assim o blogue vai-se fazendo. Já me conformei com o facto de que nunca vai ser o que eu pensei que seria, nunca vai ser perfeito, ou o que eu tinha em mente que queria fazer, porque num determinado momento parece que se solta de nós e se sente que o blogue ganha uma vida própria, uma rotina e inércia muito dele – coisa confortável, diga-se - que aponta caminhos, torce o nariz a algumas ideias de post ou a estilos diversos, exige imagens, pede atenção e parece ser avesso a grandes mudanças, pelo menos para já, não sinto o blogue com vontade de mudar seja o que for. Depois da fase inicial, de expectativas, entusiasmo, vontade, estabelece-se o conforto do conhecimento, de uma rotina, a chamada velocidade de cruzeiro. É assim que hoje eu sinto este fazer de blogue, sempre com gosto e prazer.
Ao longo deste segundo ano de vida o Hole Horror tem recebido visitas através das listas de links dos blogues, e também por vezes recebe destaques e menções simpáticas que fazem subir os números de visitantes.
Abrupto, Blasfémias, Corta-Fitas, Quase em Português,
31 da Armada, Portugal dos Pequeninos, Da Literatura, Espumadamente,
Do Portugal Profundo, Combustões, Direito de Opinião, José Maria Martins,
O Insurgente, Origem das Espécies, O Andarilho, Porta do Vento,
Coisas Sem importância, Don Vivo, Holocausto-Shoa, Clube Literário do Porto,
Imagens com Texto,
são os blogues a que me refiro. Tentei não esquecer nenhum, mas por lapso ou ignorância posso ter falhado. Se assim for peço que me alertem para o e-mail no cimo da página. Agradeço quer as visitas que proporcionam através das listas de links quer, no segundo caso, a simpatia da menção ou da referência especial que fazem disparar as visitas ao blogue. Enquanto leitora de blogues confesso que visito bastantes, mas nem sempre me fidelizo. Outras vezes as visitas são motivadas por se tratarem daquilo a que se chama “blogues de referência” e o que lá se escreve ser objecto de comentário noutros blogues, mais do que por eu gostar dom blogue. O acto de concordar, identificar não são são determinantes, concordar é uma motivação marginal ao impulso de ler um determinado blogue. Quero também referir que, para além de visitar os blogues que já mencionei, visito também com carácter regular:
Mar Salgado, A Natureza do Mal, Terceira Noite, Vox Pop,
Atlântico, Cachimbo de Magritte, Arrastão, 5 Dias,
A Causa foi Modificada, Bibliotecário de Babel, O Vermelho e o Negro, Estado Civil,
F-world, Crítico, Pedro Rolo Duarte.
Embora leia muitos blogues colectivos reconheço uma parcialidade especial para com os blogues individuais ou pelo menos aqueles em que o indivíduo se sobrepõe e impõe ao colectivo. Mais do que de blogues gosto dos fazedores de blogues, dos que não se diluem na espuma das notícias do dia ou da polémica do momento e sem se darem conta repetem o mesmo discurso vezes sem fim. Gosto de aprender com os blogues, gosto me me provoquem e desafiem, gosto de opiniões claras, argumentos pensados, teses fundadas e desabafos sentidos. Gosto mais da simplicidade do que da complexidade, gosto mais da incerteza curiosa do que da soberba da bibliografia “correcta”, gosto mais de frases próprias do que de citações, gosto mais do humor do que da arrogância, gosto mais do silêncio do que das piadas. E finalmente gosto sobretudo de sentir o pulsar de uma vida por trás das palavras: esse é o bem mais precioso e que nenhuma retórica ou artifício pode dar e o inimigo primeiro da banalidade.
8.10.08
Capitalismo
Instrumentos Financeiros e Liberdade
Mais um dia conturbado nos mercados financeiros a confirmar a globalidade da crise económica de que todos falamos. Os tempos de crise são tempos complexos, são duros e difíceis para muitos pois trazem perda e privação, para outros trazem depuração, mas para tantos trazem de volta velhos medos e preconceitos muito europeus e pelo menos desde o séc. XIX, tingidos de “esquerda”. Não falta quem declare a morte do capitalismo (as if...) e secretamente rejubile com esta crise que mais parece ter sido feita à medida para dar crédito às antigas, intelectuais e ideológicas desconfianças para com o capitalismo. No banco dos réus sentam-se os gananciosos, os especuladores, o capital, o mercado e os suspeitíssimos instrumentos financeiros. Neste momento é interessante ver o valor que se dão às palavras, como o peso da tradição as marca e como conceitos simples do tipo “ganhar dinheiro”, para uns é “criar riqueza” e para outros é “ganância”. Há hoje uma profunda dissonância na forma de olhar a crise e poderíamos deter-nos longamente nos meandros semânticos que fazem o discurso sobre a crise.
Os instrumentos financeiros são um dos bodes expiatórios apontados a dedo, é-lhes atribuída poderes maléficos, grande culpa pelo descalabro do capitalismo e há até quem declare a sua morte (pelo menos a morte daqueles mais complexos, menos compreensíveis e que por isso tanta desconfiança suscitam pelos poderes ocultos que detêm). Ora os instrumentos financeiros são uma das mais eficazes e simples expressões da liberdade individual e de uma sociedade e assim o têm sido ao longo dos tempos. Liberdade de comprar, liberdade de vender. Por muito sofisticados e abstractos que eles sejam- e às vezes, são-no, são sempre instrumentos da liberdade pois é livremente que alguém os compra ou os vende. Expressam uma vontade de resolver um sem número de situações normais (no sentido lato que envolve um julgamento assim como estatístico) como cobrir riscos, dar opções, precaver o futuro, alargar hipóteses, trocar riqueza, emprestar dinheiro, etc. É pena que o discurso normal sobre eles seja hermético e iniciático, pois essa dimensão confere opacidade e desconfiança a estes instrumentos de “troca”. Se olharmos para a História vemos que as civilizações mais dinâmicas e avançadas foram sempre as que estabeleceram “trocas”, e os instrumentos financeiros poderiam ser rudimentares e não precisarem de complexas fórmulas, mas existiam na mesma, através da palavra, promessa. Desde sempre se comprou hoje o que só existirá amanhã e desde sempre se vendeu o que (ainda) não se tem. Desde sempre que se pede dinheiro emprestado, se empresta e se cobram juros. Desde sempre que se vendem favores e se cobram favores, nomeadamente para cobrir o risco. As civilizações ditas ricas em tantas manifestações nomeadamente na arte são sociedades de mercado – de “trocas”, são sociedades mercantis, A Itália do Renascimento ou a Grécia Antiga, só para citar exemplos óbvios. Não há democracia sem essa liberdade de trocar bens, dinheiro e outros instrumentos financeiros. O contrário pode ser verdade, mas a democracia para florescer precisa de meios para com liberdade criar riqueza (ou ganhar dinheiro, ou se ser ganancioso). Para que haja essa liberdade o Estado não pode controlar todo o sistema de “troca”, se é o Estado que o controla perde-se a liberdade, o engenho. Por isso, os instrumentos financeiros não morrerão e provavelmente muitos novos surgirão depois desta crise anunciada e esperada. O capitalismo está bom e recomenda-se.
Os instrumentos financeiros são um dos bodes expiatórios apontados a dedo, é-lhes atribuída poderes maléficos, grande culpa pelo descalabro do capitalismo e há até quem declare a sua morte (pelo menos a morte daqueles mais complexos, menos compreensíveis e que por isso tanta desconfiança suscitam pelos poderes ocultos que detêm). Ora os instrumentos financeiros são uma das mais eficazes e simples expressões da liberdade individual e de uma sociedade e assim o têm sido ao longo dos tempos. Liberdade de comprar, liberdade de vender. Por muito sofisticados e abstractos que eles sejam- e às vezes, são-no, são sempre instrumentos da liberdade pois é livremente que alguém os compra ou os vende. Expressam uma vontade de resolver um sem número de situações normais (no sentido lato que envolve um julgamento assim como estatístico) como cobrir riscos, dar opções, precaver o futuro, alargar hipóteses, trocar riqueza, emprestar dinheiro, etc. É pena que o discurso normal sobre eles seja hermético e iniciático, pois essa dimensão confere opacidade e desconfiança a estes instrumentos de “troca”. Se olharmos para a História vemos que as civilizações mais dinâmicas e avançadas foram sempre as que estabeleceram “trocas”, e os instrumentos financeiros poderiam ser rudimentares e não precisarem de complexas fórmulas, mas existiam na mesma, através da palavra, promessa. Desde sempre se comprou hoje o que só existirá amanhã e desde sempre se vendeu o que (ainda) não se tem. Desde sempre que se pede dinheiro emprestado, se empresta e se cobram juros. Desde sempre que se vendem favores e se cobram favores, nomeadamente para cobrir o risco. As civilizações ditas ricas em tantas manifestações nomeadamente na arte são sociedades de mercado – de “trocas”, são sociedades mercantis, A Itália do Renascimento ou a Grécia Antiga, só para citar exemplos óbvios. Não há democracia sem essa liberdade de trocar bens, dinheiro e outros instrumentos financeiros. O contrário pode ser verdade, mas a democracia para florescer precisa de meios para com liberdade criar riqueza (ou ganhar dinheiro, ou se ser ganancioso). Para que haja essa liberdade o Estado não pode controlar todo o sistema de “troca”, se é o Estado que o controla perde-se a liberdade, o engenho. Por isso, os instrumentos financeiros não morrerão e provavelmente muitos novos surgirão depois desta crise anunciada e esperada. O capitalismo está bom e recomenda-se.
4.10.08
Sim ou Não
Ainda a propósito do programa “Momento da Verdade”, dizia-me pessoa amiga que interessante seria ver José Sócrates nele. A uma primeira reacção de “o quê?”, pensei melhor e confesso que acho interessante, e aposto que reveladora, a ideia, não só para ele como estenderia a intenção para os restantes líderes políticos, ou outros políticos relevantes, que temos: Manuela Ferreira Leite, Paulo Portas, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, para começar. O modelo teria de sofrer algumas adaptações uma vez que vida privada destes cidadãos, não seria (nem teria que ser) objecto de escrutínio para além do facto de ser irrelevante para o objectivo em vista. No entanto tudo o que dissesse respeito à vida pública destes políticos nomeadamente escolas e universidades em que estudou, desportos ou outras actividades que tenha feito, associações a que pertenceu e pertence, trabalhos que fez e onde, casas onde morou, e à vida política poderia ser alvo de escrutínio na base da pergunta em binómio: sim ou não. Por muitas explicações e justificações, por muita pedagogia política que se use, no fim ou fica um “sim”, ou fica um “não”. Um programa assim eu veria.
3.10.08
Lixo Televisivo e Honra
Há alturas em que me sinto desfocada deste mundo. Pareço vinda de umas longas viagens que nos fazem demorar a reconhecer a casa onde moramos. Anda por aí, este “aí” num sentido verdadeiramente lato e indefinido, que tanto pode ser pelas ruas que percorremos, lugares em que pousamos, textos que lemos ou gentes cá da terra com quem falamos, uma certa indignação com um programa da televisão que passa na SIC e parece que se chama “Momento da Verdade”. Ao que parece perguntam coisas que, para sossego dos próximos e do mundo em geral, nunca se deveriam perguntar, e muito menos querer saber. Mas os concorrentes acham que não, e lá contam a vidinha toda, entre poses mais ou menos indignadas e ar compungido dos familiares, e vão respondendo a essas ditas perguntas para ganhar um prémio final. Pelo menos isto foi o que consegui detectar nos breves segundos que vi o dito programa, enquanto zapava. Breves segundos mesmo, porque tenho real incapacidade de ver estes programas, Big Brothers e afins. Irritam-me, incomodam-me questionam demasiado as minhas crenças sobre o género humano , fazem mal à alma e poluem, porque todo o lixo polui, incluindo o lixo televisivo.
Tenho, no entanto, seguido na RTP Memória uma série inglesa da LWT (a mesma que fez a Família Bellamy ou Upstairs Downstairs) passada na Ilha de Guernsey durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Nesta época de Dr. House, Perdidos, Donas de Casa Desesperadas, Anatomia de Grey ou Prison Break, é com curiosidade que revemos estas séries doutras épocas. Toda a narrativa é diferente, o ritmo, os enredos, as filmagens, a composição das personagens, os episódios parecem mais decalcados de uma sólida tradição teatral do que da vontade de exploração da televisão ou apostas em complicadas produções. Tudo prima pela sobriedade e ritmo adagio incluindo as paixões que movem as personagens, se é que adagio e paixão são conceitos compatíveis. Num complexo mundo em guerra, conseguem arrumar direitinho as pessoas por categorias: cavalheiros, oficiais, soldados, gente comum, políticos, militares de carreira, militares dos serviços secretos, espiões, etc. O mais interessante na série é ver estas divisões no lado alemão onde a tendência é serem catalogados na gaveta dos “maus”. Outra curiosidade é que o valor mais importante transmitido ao longo dos episódios é o da honra. Hoje em dia seria impensável fazer uma série em que o aspecto mais relevante fosse a honra, poderia ser a lealdade, a coragem, mas a honra está a cair em desuso e tanta gente já nem sabe o que isso é. Talvez se soubessem não fossem ao “Momento da Verdade”.
Tenho, no entanto, seguido na RTP Memória uma série inglesa da LWT (a mesma que fez a Família Bellamy ou Upstairs Downstairs) passada na Ilha de Guernsey durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Nesta época de Dr. House, Perdidos, Donas de Casa Desesperadas, Anatomia de Grey ou Prison Break, é com curiosidade que revemos estas séries doutras épocas. Toda a narrativa é diferente, o ritmo, os enredos, as filmagens, a composição das personagens, os episódios parecem mais decalcados de uma sólida tradição teatral do que da vontade de exploração da televisão ou apostas em complicadas produções. Tudo prima pela sobriedade e ritmo adagio incluindo as paixões que movem as personagens, se é que adagio e paixão são conceitos compatíveis. Num complexo mundo em guerra, conseguem arrumar direitinho as pessoas por categorias: cavalheiros, oficiais, soldados, gente comum, políticos, militares de carreira, militares dos serviços secretos, espiões, etc. O mais interessante na série é ver estas divisões no lado alemão onde a tendência é serem catalogados na gaveta dos “maus”. Outra curiosidade é que o valor mais importante transmitido ao longo dos episódios é o da honra. Hoje em dia seria impensável fazer uma série em que o aspecto mais relevante fosse a honra, poderia ser a lealdade, a coragem, mas a honra está a cair em desuso e tanta gente já nem sabe o que isso é. Talvez se soubessem não fossem ao “Momento da Verdade”.
1.10.08
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