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31.12.07
30.12.07
Dos Balanços do Ano 2
A omnipresença
De Deus. Ele está em todo o lado, e 2007 não foi excepção. No Kosovo, na entrada da Turquia na UE, nos atentados de Argel, na Birmânia, no Afeganistão, na Rússia, no Sudão, no Médio Oriente. Na intolerância, na radicalização religiosa, na perseguição, na discriminação (sobretudo das mulheres). Nas revoluções dos costumes, no aborto, no casamento dos homossexuais, no divórcio, na contracepção, na inseminação artificial, nas experiências em embriões, nos preservativos. Na política, em Sarkozy na viagem a Roma, no Papa Bento XVI e a sua cruzada constante sobretudo na Europa (à deriva, segundo ele) pela valorização do legado cultural cristão bem como dos valores cristãos numa sociedade (ocidental) cada vez mais materialista e relativista.
De José Sócrates. Ele está em todo o lado, tal a preocupação em zelar pelo nosso interesse, sobretudo onde não deve. Na obesidade que devemos combater, no jogging que não fazemos e que em qualquer lado do mundo ele nos lembra, nos cigarros que fumamos, nas graçolas que dizemos aos colegas de trabalho, no dever de dizer quando sabemos quem não paga imposto, no óleo em que fritam os rissóis que vamos comprar, nas consultas para deixar de fumar, no estímulo à natalidade, nas certidões de habilitações passadas ao Domingo, nos momentos de glória “porreiro, pá!”, na distribuição de computadores pelas escolas nos “momentos Chavez”, no Inglês Técnico do Middle West, na West Coast Of Europe, no Allgarve, nos sapatos Prada, na revolução tecnológica que não percebemos e que tantas vezes simplesmente não funciona. E enfim, ele está presente no governo que nos governa, e na oposição que não temos.
Dos Balanços do Ano
Invejo quem consegue fazer balanços (um de que gostei aqui) dos anos que passam, listas (sempre exaustivas e implacáveis aqui) de coisas boas, más e assim-assim, lembrar os livros, lembrar os filmes, destacar os factos e as figuras internacionais e nacionais. Chegado este período, abro os jornais e fico sempre pasmada com a sucessão de acontecimentos a relembrar que enchem cada ano que passa, porque para mim tudo se perde e mistura na espuma dos dias que passam e das coisas que se fazem e fica apenas uma ténue marca temporal qualquer que o subconsciente se encarrega de produzir, para que, posteriormente e com um pouco de esforço consiga localizar o facto no tempo. Uma questão de sobrevivência intelectual, por assim dizer. De repente, parece que o referendo ao aborto foi “há que tempos”, que o caso Maddie continua “sempre presente”, e que as manifestações na Birmânia foram há uns bons meses, este ano certamente. O mesmo se passa com livros que li, filmes que vi: tudo vago. Lembro dois ou três, e só depois todos os outros vêm lentamente à superfície da memória. Acredito hoje, época de balanço, que a minha vontade de ter um blogue talvez também tivesse como objectivo o de ancorar temporalmente esta sucessão de ideias, opiniões, factos, desabafos, e organizá-los para que não vagueem soltos e sem nexo. Agora, se quiser fazer balanços e listas só me falta mesmo, para além da vontade, da paciência e do tempo, consultar o arquivo do blogue para ver, ou ajudar a lembrar o que foi o “meu” ano.
28.12.07
27.12.07
Sendo o BCP um a instituição privada, é com dificuldade que olho para esta situação actual tão promiscua com os partidos políticos do chamado “centrão” a envolverem-se e a opinarem numa luta pela influência e poder pouco dignas de sociedades desenvolvidas e com uma sociedade civil sólida. Questiono a intervenção do Banco de Portugal e da CMVM reunindo accionistas, “avisando”, “sugerindo”, insinuando perigos como sendo detentora de uma qualquer superioridade informativa pouco condigna de mercados transparentes e de regimes em que a separação de poderes é escrupulosamente respeitada. O tom moral é absolutamente insuportável e impensável também nas sociedades com uma economia realmente desenvolvida. Sendo o BCP uma instituição privada não há lugar nem a paternalismos, nem a accionistas atentos e obrigados que acatam avisos, ameaças, e de imediato se colocam numa situação reverencial perante os símbolos do regime. Se há matéria judicial, que se se avancem com inquéritos e processos, (parece que deveriam já ter avançado há muito e que, mais uma vez, se chega tarde), mas lançar suspeitas sobre todos e tudo de um determinado período é facilitismo levado ao absurdo e à irresponsabilidade, numa névoa cinzenta em que tudo em Portugal mergulha, para que mais tarde a culpa possa sempre morrer solteira, como em tantos outros inquéritos e julgamentos.
Entre uma rabanada, um presente que se desembrulha, um cântico de Natal estafado e as luzes do presépio, continua lenta e firme a saga BCP cada vez mais embrulhada e requentada, cada vez mais igual ao país que somos. Ficaram aqui umas notas sobre o que mais choca nos recentes desenvolvimentos da saga e que parecem ser aceites, comentados e dissecados com tanta naturalidade.
23.12.07
Magnificat 11 (fim)
Gloria Patri, et Filio,
Et Spiritui Sanctu
Sicut erat in principio,
Et nunc, et semper,
Et in saecula saeculorum, Amen
Johann Sebastian Bach e Nikolaus Harnoncourt AQUI
22.12.07
Magnificat 10
Johann Sebastian Bach e Nikolaus Harnoncourt AQUI
A propósito do Acordo Ortográfico
21.12.07
Magnificat 9
Johann Sebastian Bach e Nikolaus Harnoncourt AQUI
.
O BCP, um espelho do nosso Portugal.
O parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2006 do Tribunal de Contas, um retrato do Estado Português.
Mais Pobres
O absurdo em que tantas vezes se converte o quotidiano atinge o seu auge nos dias que antecedem o Natal. O Espírito Natalício nunca o foi, e ao percebê-lo o Natal começa a perder o sentido que sonhamos numa inocência perdida da infância e a ser triturado na espiral de violência urbana em que assenta a nossa vida e no delírio consumista que toma conta do nosso mundo. Este ano, este build up natalício parece-me pior e mais falso ainda do que nos anos anteriores.
Assim lembro: o caos do tráfico, a multiplicação desmesurada de tarefas, solicitações e afazeres, as músicas natalícias que enchem qualquer espaço comercial (este ano também elas me parecem piores, como se isso fosse possível), as intermináveis listas que elaboramos a propósito de tudo o que se possa imaginar, os supermercados absurdamente cheios de coisas que durante o ano nem víamos, o cansaço estampado na cara das pessoas, as luzes que enfeitam as zonas comerciais e a cidade que ou são inexistentes ou são azuis, frias e pindéricas, pateticamente (ver Av. Da Liberdade) patrocinadas por um banco. Mas o que me impressiona mais este ano são as lojas. As lojas que, depois de meses e meses vazias, de repente, encheram e borbulham numa excitação artificial. O facto de o tempo ter estado quente até meados de Novembro também não ajudou, mas que não restem ilusões: os portugueses estão a perder poder de compra, e a empobrecer a olhos vistos, e as lojas que andaram durante meses literalmente vazias, estão agora numa agitação que às vezes lembro um último fôlego, um último suspiro.
20.12.07
Magnificat 8
Johann Sebastian Bach e Nikolaus Harnoncourt AQUI
19.12.07
Outros Mundos
18.12.07
Magnificat 6
Johann Sebastian Bach e Nikolaus Harnoncourt AQUI
Magnificat 5
Johann Sebastian Bach e Nikolaus Harnoncourt AQUI
17.12.07
Promessa Cumprida
Depois de A Bússola Dourada quis ver um filme que não me desiludisse, e aproveitei o facto de não estar exactamente de bom humor (sim, que há certas coisas que não se conseguem fazer tão bem de espírito limpo), e fui ver o filme de David Cronenberg Eastern Promises - traduzido para um indiferente e banal Promessas Perigosas. Não conheço todos os filmes de Cronenberg, mas os que conheço (sobretudo os mais antigos) nunca me desiludiram. Também confesso que a dupla Viggo Mortensen e Naomi Watts não foi indiferente ao apelo que o filme exercia sobre mim.
16.12.07
Magnificat 4
Johann Sebastian Bach e Nikolaus Harnoncourt AQUI
15.12.07
Magnificat 3
Johann Sebastian Bach e Nikolaus Harnoncourt AQUI
Golden Compass
Começou a minha época natalícia de filmes que todos os anos desejo que seja bem curta. Começou mal com um Bússola Dourada que não me convenceu nada e eu até estava predisposta a gostar sobretudo depois da boa experiência que foi de Stardust (como referi aqui).
Os efeitos especiais, naves bizarras, paisagens extraordinárias, metamorfoses e feiticeiros só por si não me convencem. Nem uma Nicole Kidman impecável na sua frieza, me fez fraquejar. O filme (o primeiro de uma trilogia) é pobre sobretudo se o compararmos (coisa inevitável tal a abundância de referências que ele carrega) com a trilogia O Senhor dos Anéis, ou mesmo a saga Harry Potter, e o recente filme As Crónicas de Nárnia. Parece uma manta de pequenos retalhos tirados daqui e dali que fazem uma história sem interesse apesar de nos ser servida com complexidade científica e mágica. Uma bússola, que não passa de um gadjet que não vale nada, e refiro-me ao nível simbólico, uns ursos irrelevantes e pacóvios, uns “maus” que não se sentem nem se sabe bem de onde vêm, e um “bom” (o tio, interpretado por Daniel Craig) que não se percebe bem o que faz, porquê e para quê, e uns alter-egos (os animais) que são talvez a ideia mais original e interessante do filme. Deixo para o fim a personagem principal, a menina esperta de 12 anos que decide, revolta-se, desobedece, luta, incentiva, lidera. É de mais para uma criança, mesmo num filme fantástico para a época natalícia: irritou-me desde o primeiro momento. Assim não se pode gostar do filme.
Ainda semi atordoados com os sucessivos sucessos do nosso Primeiro-ministro, e por isso do nosso Portugal, no palco das cimeiras realizadas nas últimas semanas a um ritmo frenético, deparamo-nos hoje, e sem pausas para respirarmos e retomarmos o fôlego, com o Primeiro-ministro real, dos anúncios de promessas reais e concretas - mas de cumprimento relativo, ao ritmo previamente pensado e estabelecido. Nada deixado ao acaso. Por isso tudo parece querer voltar à normalidade na Costa Ocidental da Europa.
E em época natalícia, nada melhor do que anunciar novas creches.
13.12.07
Magnificat 2
Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo.
Johann Sebastian Bach e Nikolaus Harnoncourt AQUI
12.12.07
O Saco de Plástico
O saco de plástico é, num país ainda novato em matéria de consumismo e depois de décadas a ser educado para poupar, um símbolo de esbanjamento e progresso, bem como uma verdadeira praga da nossa “modernidade”. Portugal não escapa a ele, aliás até deve ser um país que o usa e abusa, assim a meio caminho entre o mundo desenvolvido e “sofisticado” que os evita e prefere o de papel, e um mundo menos desenvolvido mais pobre e por isso menos consumista.
Os sacos de plásticos de supermercado então, são todo um caso a merecer estudo, doutoramento até, tal a sua proliferação e sucesso entre os consumidores. São um objecto feio sem excepção, exibem grandes e desajeitados logos de cores fortes e são, também sem excepção, de uma qualidade que desafia a paciência de qualquer um. Comprar um ananás ou outro qualquer produto que tenha uns ângulos mais pontiagudos ou duros e chegar a casa sem o saco rasgado e os produtos a tombarem é um feito digno de registo. Tenho-lhes tanto horror que inúmeras vezes no supermercado me esforço por encher cada um de uma forma pensada (eu sei, pensar para encher sacos é de uma presunção!) esforçando-me para trazer o menor número possível deles para casa. Esforço esse tantas vezes em vão, pois os funcionários(as) da caixa parecem gostar de os encher pouco e de os dar liberalmente aos clientes num gesto de condescendente generosidade e cumplicidade, numa lógica que me ultrapassa, gastando muitos mais do que eu gastaria. É que eles sabem. Sabem que apesar de feios, e de má qualidade há toda uma cultura enraizada de pegar e levar tantos quanto possível, mesmo novos e sem usar, com o secreto pretexto de os utilizar para o lixo: o segredo mais bem guardado dos lares portugueses. Também nunca se sabe de quando podemos precisar de um saco de plástico, e isto de ser previdente nunca fez mal a ninguém, - as tais décadas a poupar de que falei. É uma imagem triste e confrangedora a do(a) português(a) que leva na mão um saco de supermercado rasgadito aqui e ali, a abarrotar de lixo e mal fechado para o contentor mais próximo de casa. Para o lixo deviam ser utilizados sacos de lixo: é para isso que eles são feitos, é para isso que eles servem. Acabar com a tentação do saco de plástico foleiro do supermercado para o lixo poderia, isso sim, ser uma prioridade nacional.
Mas ouvir o governo falar em impor um custo ao saco de plástico, isso é que não! Não me oponho a que as grandes superfícies cobrem aos clientes os custos de um saco, mas então que seja um saco de dimensões e qualidade razoável, e não estas coisas que eles esbanjam, no entanto sou ferozmente contra a intervenção do Estado e a criação de um novo imposto com a desculpa de uma política ambiental. Basta de interferência, basta de taxas e impostos. O Ikea é um bom exemplo de grande superfície que cobra os sacos que os clientes querem usar e por isso vende-os e eles são de uma razoável qualidade: de papel, grandes e resistentes. A lógica assim pode funcionar, porque o cliente paga, também poupa, porque grandes e resistentes, podem servir para muitos produtos, porque de papel poluem menos do que os de plástico e finalmente... nunca servirão para lixo.
11.12.07
Parece que o nosso Primeiro-ministro numa entrevista a um jornal espanhol terá confessado, num premeditado, preparado e ensaiado momento de abertura, descontracção e espontaneidade, que calçava Prada. Se assim é, it's a big mistake, José! Os homens em quem se confia calçam Church’s. Basta clicar para ver a diferença. Quem não entende, que meta explicador.
10.12.07
Grand Language, ou "Porreiro, Pá!" (bis)
Comentários, para quê?
9.12.07
8.12.07
Pedem-me para nomear cinco filmes, mas talvez porque tenha chegado Quase em Português, fiquei sem perceber bem o critério da nomeação. Os melhores? Os que mais me marcaram (seja lá o que for que isso quer dizer nos diferentes momentos da vida que vamos vivendo), os que vêm primeiro à cabeça, os que vimos mais vezes, os que compramos em DVD, os últimos que vimos, os que..., os que...
Mesmo que faltando critérios de selecção eu, que já gostei de cinema mais do que hoje em que me limito a gostar de ver alguns filmes de forma mais confortável a nível de exigência, não tenho dificuldade em nomear cinco, nem mesmo cinquenta.
1. O Meu Vale Era Verde, de John Ford. John Ford é, talvez, o meu cineasta preferido, e poderia nomear qualquer um dos seus filmes, mas este é especial porque “marcou”. Maureen O’Hara está fabulosa.
2. Lawrence da Arábia, de David Lean. Um filme contemplativo que desperta o fascínio pelo deserto, com dois belos actores. Nunca me canso de o ver.
3. A Dama de Xangai, de Orson Welles. Sempre gostei mais deste do que de O Mundo a seus Pés. Magia entre Rita Hayworth e Orson Welles.
4. O Terceiro Homem, de Carol Reed. Dispensa comentário. Uma bela história. A voz de Orson Welles é fabulosa, assim como a cena final.
5. O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme. Um bom thriller com uma dupla de actores que se desafiam. Diálogos bons. Jodie Foster no seu melhor.
Não sei como pude deixar de fora “E tudo o Vento Levou”, e como não nomeei nenhum Hitchcock, mas se começar a pensar vejo que deixei muitos "essenciais" de fora.
7.12.07
5.12.07
A Cimeira UE-África, ou Porreiro, pá! (bis)
D. Daniel Adwok Bispo auxiliar de Cartum diz não compreendo a decisão da presidência portuguesa da União Europeia. Pois já somos dois se me for perdoada a arrogância de pretender perceber e sentir seja o que for do que se passa em Darfur. Não só não compreendo a criação do tabu direitos humanos, tema a banir da agenda, como não compreendo o porquê da necessidade de realizar uma cimeira UE-África, que parece sobretudo talhada à medida para servir um qualquer "orgulho nacional” assumido por um primeiro ministro vaidoso e que nunca escondeu a vontade de deixar uma marca da sua presidência na história da UE. O tratado de Lisboa e agora a Cimeira. Espero que a UE não pague muito caro o preço desta vaidade.
Não sei o que é que de concreto se pode esperar desta cimeira, nem porque é que ela é necessária, nem tão pouco em que é que as relações entre a Europa e África possam visivelmente melhorar. A vontade da fotografia de grupo é maior do que ter um pingo de decência e vergonha que nos impeça de celebrarmos (a palavra parece adequada, infelizmente) uma cimeira lado a lado com a pior espécie de líderes políticos. O nosso Primeiro-ministro juntamente com Durão Barroso cuja febre africana e “orgulho nacional” o une a José Sócrates na vontade desta cimeira, vão literalmente - e porque cederam à chantagem da imposição de uma agenda e imposição de tabus, apadrinhar toda uma série de regimes políticos bárbaros e corruptos, bem como os seus líderes políticos igualmente bárbaros e corruptos para além de toda uma parafrenália de regimes obscuros, ditatoriais ou democraticamente musculados (como gostam de ser chamados), corruptos e opressivos, nas versões mais “soft” num universo em que a democracia é uma excepção. As vítimas, os africanos sem terra, sem trabalho sem condição de viver enquanto os líderes enriquecem a olho nu, serão mais uma vez esquecidos, entre uns discursos, umas palmadinhas nas costas, um espumantesinho erguido e uns “porreiro, pá!"
O Bispo de Cartum revolta-se porque sente na pele dos seus, também a sua, a barbárie do regime em que vive. Nós revoltamo-nos sobretudo de um ponto de vista intelectual e político. Se fosse um sentir tão visceral como o do Bispo, esta cimeira revoltar-nos-ia muito mais.
Dando Excessivamente sobre o Mar 19, sem mar, mas com rio
Na minha pesquisa para encontrar pinturas para o tema “Dando excessivamente sobre o Mar” agora com um cunho mais invernal e céus texturados, tive inevitavelmente que procurar entre os chamados Românticos Ingleses. Depois de declarar a minha paixão pela pintura flamenga renascentista que tanto glosei há meses, e continuarei certamente com outros pretextos, declaro o meu total fascínio pela escola dos românticos ingleses, eu que já gostava deles da literatura. Constable tem sido uma admirável surpresa, pois era um pintor que antes pouco me dizia. Ter um blogue há-de servir para alguma coisa!
4.12.07
Sair de Cena
A acompanhar há meses, ou há anos, com fingido desinteresse, a novela da vida real chamada BCP, deparamo-nos com a figura intrigante de Jardim Gonçalves indissociável da imagem do banco que com tanto sucesso criou e fez crescer. Jardim Gonçalves figura sempre polémica que gerou amores e ódios fez lealdades e inimigos, decidiu destinos, desfez e criou, teve sempre uma qualquer estrela que o talhava como uma personagem de contornos shakespeareanos. Nunca como hoje, em que teimosamente quer continuar colado a um destino que já não é dele, a sua estrela brilha no firmamento da tragédia, mostrando a sua dimensão humana e a sua total fragilidade perante a incapacidade de aceitar e fazer o gesto último e digno: sair de cena.
3.12.07
30.11.07
Trivialidade
De vez em quando, coisas que leio, ouço ou vejo, ficam teimosamente na parte da frente da memória, como se se recusassem a ser devidamente encaixotadas, arquivadas e rumar aos fundos mais escuros e silenciosos. Não falo dos momentos significativos da vida, falo de coisas pequenas, triviais insignificantes, que adquirem, sem me dar conta disso, um valor simbólico qualquer ou representam um padrão qualquer, que me incomoda e que não me deixa esquecer o assunto em causa. Desta vez foi uma frase que Miguel Sousa Tavares proferiu na entrevista que deu à SICN, terça feira à noite. Quando questionava, com toda a legimitidade, a decisão do Público de encomendar a leitura do seu livro a Vasco Pulido Valente e das motivações dessa mesma decisão que resultou em três páginas, com fotografias e tudo, disse em tom à parte, “... porque o Público já não é um jornal de referência há muito tempo...”.
Primeiro: MST decidiu, com base em critérios que não explicou, que o Público já não era um jornal de referência há muito, direito seu, mas, será que deixou de o ser quando ele (MST) deixou de lá escrever a sua crónica às sextas-feiras? Também não disse qual era, segundo os seus critérios não explicados, o jornal de referência agora. Foi pena porque até teve oportunidade de o fazer. Será o Expresso?
Segundo: Fez a afirmação de uma forma que parecia estarmos perante uma verdade universal, um dogma e como se o facto de hoje ser remunerado pelo Expresso em vez de o ser pelo Público em nada pudesse influenciar o seu juízo. E como se nós, seus ouvintes, também nunca pensássemos nessa possibilidade esquecendo convenientemente a origem da sua remuneração no seu juízo sobre “o” jornal de referência nos dias de hoje.
Terceiro: Lembro-me, como tantas outras pessoas que hão-de lembrar ainda melhor do que eu, de quando ele saiu da SIC, depois de fazer alguns programas com sucesso (Flash-back, por exemplo) e do que dizia da SIC (e por extensão do grupo) nessa altura. Também me lembro do último artigo que escreveu no Público antes de ir para o Expresso e nunca lá vi referido como justificação para a sua saída o facto de achar que o jornal perdia qualidade.
Claro que isto é tudo uma trivialidade sem importância alguma. A importância é a memória ser tão curta e de tão fácil esquecimento. Importante é o facto das verdades universais mudarem com a rapidez com que muda o vento. Importante é pensarem que todos pensamos igual, importante é assumirem (e MST é apenas o pretexto hoje) que não temos memória, importante é sistematicamente e em que circunstâncias forem tomarem-nos tão facilmente por parvos. Se calhar somos, ou deixamos que pensem que somos.
29.11.07
Três pequenos instantâneos da “nossa” política internacional.
O sempre diligente, atento e obrigado Primeiro-ministro conseguiu uma proeza: Coube a José Sócrates a declaração explícita exigida pela China. Lembrando a "posição tradicional da União Europeia, que continua a reconhecer a política de uma só China"... Só lembrar que na mesa negocial estava também a exigência feita pela China para que a União Europeia condenasse de forma explícita o referendo em Taiwan sobre a adesão às Nações Unidas, o que acabou por conseguir.
De repente não me lembro da posição da UE em relação ao Kosovo... Terá uma? Dois pesos e duas medidas (o da China e o do Kosovo, I mean).
O discreto Ministro Luis Amado sobre o menos discreto Mugabe: “preferia que não estivesse presente”, mas “tem todo o direito de vir”, “já se sabia há muito tempo. Ele tinha dito que vinha”. Gatos Fedorentos, andam por aí?
Um instantâneo da política internacional:
Uma professora britânica condenada por ter posto o nome de Mohamed a um peluche. A onda de indignação é ainda menor do que a que houve quando Kasparov foi preso.
Moral das histórias: Mugabe é livre de ir e vir. A professora que pôs um nome proibido a um peluche, não está livre. Os líderes Chineses são livres de impor agendas. Os habitantes de Taiwan não são livres de decidir do seu futuro, UE dixit. Quanto ao Kosovo... já nem sei que diga.
28.11.07
A corrente da 5ª frase da página 161 do livro que estiver mais à mão, bate outra vez à porta deste blogue. Desta vez a simpática lembrança vem daqui.
Como todos os outros, adivinhei imediatamente quem eras!
Orhan Pamuk, Os Jardins da Memória.
27.11.07
Rio das Flores 2
Não me pronuncio sobre o rigor histórico, que para mim em última análise é irrelevante, e as quase quinze páginas de bibliografia não impressionam. O que não é irrelevante é o tom com que essa História nos é dada ao longo do romance. Longas e demasiadas explicações num tom por vezes doutrinal que não escondem um um propósito pedagógico qualquer e que trata o leitor de uma forma paternalista como se fossemos uns ignorantes a precisar de ser ensinados, o que torna enfadonhos esses longos momentos e resultam numa dispersão da atenção do leitor que não consegue deixar de pensar que está numa série de múltiplas sessões de esclarecimento. Há uma sensação que ultrapassa a familiaridade e é mesmo de déjà vu nas conversas políticas entre personagens, com um sabor demasiado actual (em sentido histórico), o sabor que está ancorado nos anos 70 - um exemplo é o diálogo sobre pintura e comunistas que começa na página 235, e que soa estranho saindo da boca das personagens nas primeiras décadas do século passado. Grande parte das passagens históricas maçaram-me, considerei-as pouco esclarecedoras do ponto de vista histórico e excessivas do ponto de vista literário, e dei por mim a saltar parágrafos, nomeadamente nas intermináveis páginas sobre política brasileira dos anos 20 e 30.
Creio que este exagero em mostrar trabalho histórico esconde alguma falta de esforço e exigência literários nomeadamente ao nível das personagens que são poucas e pobres e que por isso dão pouca vida ao ambiente social em que se mexem. O romance, é pouco romance, tem pouca consistência, e é pouco abrangente. No fundo, e em termos literários, estamos perante uma novela com grandes explicações históricas pelo meio, que um objecto bem diferente de um romance histórico. Este é talvez o ponto mais fraco do romance e o equívoco do autor.
As personagens, como já referi, são poucas, pobres e bidimensionais, sem profundidade nem densidade suficiente para carregarem aos seus ombros o “fardo” de uma saga familiar e social. Valmonte, como personagem, parece mais forte do que quem a habita. Diogo é uma fraca personagem principal de quem se aprende a não gostar e que, com o desenrolar do enredo, vai desencantando. Rapidamente desenvolvemos alguma indiferença em relação a ela, ao seu tédio, aos seus anseios de liberdade, à sua inconstância. Nunca nos marca, nunca nos apercebemos nem vivemos a intensidade dos seus dilemas, do peso das suas opções. Há hiatos temporais em momentos decisivos da narrativa e da evolução das personagens, sobretudo nas três personagens principais: a decisão final, ou a inevitabilidade do Brasil para Diogo, o sofrimento de Pedro, quer depois de Angelina quer quando fica ferido, a solidão de Amparo, e a sua opção pelo local e não pela pessoa. Pedro, talvez porque mais simples, menos exposto e menos dado a inconstâncias e insatisfações, é um pouco mais trabalhado e parece ter outra profundidade que Diogo não tem, bem como parece, desde cedo, ter a marca da inevitabilidade do seu destino: a terra, Valmonte e Portugal. Amparo e Maria da Glória são dois bons projectos de personagens, duas promessas mas ficam por aí. MST parece ter um problema com as personagens femininas (tal como em Equador) e nunca lhes faz justiça: começa com um bom esboço, mas acaba num estereótipo. Amparo, pelo menos merecia melhor. As personagens, e muito especialmente as femininas, são outro dos pontos fracos do romance. A história da família evolui de uma forma que vai sendo previsível.
26.11.07
Rio das Flores 1
Apesar da receita mágica – já tão glosada pelos críticos - de exotismo e sexo, infalível a seduzir os leitores no seu anterior romance, Equador, creio que este (Equador) tem uma certa frescura e alguma inocência (por ser um primeiro romance?), lê-se de um fôlego só, e de ficamos presos ao desenrolar do enredo ou ao ambiente húmido de S. Tomé, esquecendo alguma banalidade estilística e previsibilidade, entretidos que estamos na espiral da narrativa. Isto é um mérito em Portugal onde normalmente - porque há excepções, se contam mal histórias. Rio das Flores é mais ambicioso, mais elaborado, mais presumido, mais premeditado, mais intencional, elevando a fasquia. Nas primeiras páginas nota-se logo esta característica, o que mais facilmente expõe o livro ao desapontamento de um leitor um pouco mais exigente.
Fica-me a sensação de um romance híbrido que não é nem uma coisa nem outra, antes pelo contrário. Não é suficientemente leve nem tem um enredo simples e básico para se ler como um romance “light”, nem é suficientemente estruturado e sério para ser um romance histórico, nem tão pouco é cuidado, sólido e elaborado, nomeadamente a nível das personagens e consequentemente no retrato da sociedade para ser considerado um bom romance familiar na boa tradição literária. MST foi demasiado ambicioso: apostou em todas as frentes, levou-se demasiado a sério enquanto romancista histórico, e o resultado não é tão brilhante como gostaria, diria até que mais baço do que o seu romance anterior.
Operação Natal em Segurança antecipada devido a acidentes recentes. Gostaria de acreditar na bondade desta decisão e no facto de que a perspectiva do aumento de multas/verbas em nada terá influenciado o decisor.
25.11.07
Eu e a Blogosfera
24.11.07
Eu e o Blogue
Já faço este blogue há 14 meses, percebi isso recentemente. Têm sido meses interessantes e gosto muito de o fazer, mesmo quando o percebo diferente do que pensava que poderia ser ou do que sonhei que seria, mas cada dia, cada texto, cada imagem vão-se fazendo e construindo assim o blogue. Quando o decidi fazer, gostei da ideia de ter uma página virtual em branco e nas possibilidades de a encher componho assim uma espécie de recolha/diário em que registo desabafos, ideias, livros que leio, filmes que vejo, locais que visito, pinturas e imagens de que gosto e que muitas vezes mais não são do que evocações ou nostalgias. Nada é obrigatório, mas é uma teia que se vai tecendo e uma das coisas que mais gosto no blogue é o facto de ser meu e de depender unicamente da minha vontade e inspiração. A agenda, a escolha de imagens, os temas, as reflexões e desabafos sou eu que os decido e determino. Claro que muitas vezes me apetece opinar sobre um ou outro tema mais actual, mas não o faço porque já alguém, nomeadamente na blogosfera, já o fez muito melhor do que eu, ou com mais sapiência do que eu. Por isso eu posso afirmar que faço o blogue sobretudo para mim, ou pelo menos para meu prazer e minha satisfação de uma forma discreta e tranquila e que fico verdadeiramente admirada por saber que há quem me leia e sinto-me honrada por isso. Não deixo, no entanto, que algum tipo de receio de “desiludir” seja que leitor for, me impeça de trilhar o meu caminho ao fazer o blogue. Parece-me que este é o encanto, ou desencanto, dos blogues individuais.
Uns meses mais do que outros, umas semanas mais do que as outras, mas há quem visite o blogue atrás de uma imagem, de um tema, ou mesmo porque quer ler e ver o que aqui se faz. Agradeço a todos os que por aqui passam e espero que se sintam bem vindos, nomeadamente os visitantes do Brasil que são uma parte importante das visitas. E para além da maioria de leitores anónimos que visita o blogue não posso, nem quero, deixar de mencionar os blogues que desde o primeiro momento fizeram referência ao HH e que se mantêm visitantes: Quase em Português e Espumandamente que, nem sei como, descobriram este blogue mesmo no início e fizeram de mim leitora dos seus blogues. Posteriormente, Do Portugal Profundo, Blasfémias, O Andarilho, Holocausto-Shoa, Portugal dos Pequeninos, Origem das Espécies, Corta-Fitas e 31 Da Armada, também se referiram ou linkaram o HH. Não sei se mais algum blogue o fez, se sim, as minhas desculpas pelo esquecimento ou por não ter reparado. Mais uma vez: sinto-me honrada pela atenção. O Hole Horror continuará a ser feito, um dia atrás do outro.
23.11.07
21.11.07
Os Livros Errados
Seja para onde for que eu vá levo sempre um livro comigo. A ideia de ter que esperar e ficar a olhar para o nada, ou ter que ler revistas já demasiado lidas, remexidas e desactualizadas, ou de ter que fazer de conta que não olho para ninguém, mesmo depois de ter contado os botões do casaco da senhora do lado esquerdo e de ter fixado o padrão da gravata do senhor em frente, é demasiado incómoda, muito mais do que carregar com um livro. Como não tenho paciência para os forrar (e para quê, se não os sujo?) quem estiver perto de mim pode sempre saber o que leio. Nunca ninguém se impressionou com o que leio, nunca fui abordada por causa do livro em mãos e nunca ele foi ponto de partida para inesperadas, interessantes e profundas conversas, nem para descobertas de almas gémeas que de outra forma andariam perdidas, ou de grandes e inevitáveis amores, nem tão pouco de mais prosaicas e sólidas amizades. Ler e ter um livro na mão tem sido ao longo dos anos algo de solitário e mesmo privado e que nunca despertou a curiosidade de ninguém. Lembro-me apenas de uma vez, numa consulta médica ter sido simpaticamente interpelada pelo médico que viu o livro e autor, lembro a ocasião, mas não lembro nem o autor nem o título da obra. Seria cortesia seria genuino não sei. Também me lembro de, por duas vezes creio, ao verem um livro nas minhas mãos me perguntarem se tinha lido o Código da Vinci. Não, esse não li, dizia eu terminando assim de forma demasiado abrupta a conversa como se fosse pecado não o ter lido, como se, pelo mero facto de ter um livro na mão, se pudesse inferir que teria lido o Código da Vinci.
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