“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com

31.1.10

Amanhecer 23

Hoje


Dos Blogues

A curiosidade aqui expressa sobre o modo de funcionamento dos blogues colectivos é a que eu também nutro há muito. Aliás já aqui confessei várias vezes a minha preferência, em abstracto, por blogues individuais, ou pelo menos por aqueles que, sendo colectivos, deixam transparecer de maneira inequívoca a individualidade, a forma e o tom de cada um dos elementos. Eu também nunca percebi como funcionam os blogues com dezenas de colaboradores nem como se organizam e gerem, nomeadamente nos exemplos dados neste post e já vi/li demasiadas dissidências para acreditar que “tudo” se faz “naturalmente”. As estruturas informais (palavras de Miguel Castelo Branco) parecem-me facilmente permeáveis a mal-entendidos, equívocos e susceptibilidades várias, que se vão acumulando e que não sei como são contornadas e/ou resolvidas. Às vezes não são, como já todos nós (bloggers) testemunhámos, e a dissidência pode tomar contornos bem pouco discretos. Mas não é só o modo de funcionamento dos blogues colectivos que me deixa perplexa no mundo dos blogues, colectivos ou não. Há outros aspectos:

As caixas de comentários.
Há-as para todos os gostos e feitios. Confesso que visito pouco caixas de comentários, pois rarissimamente vi nelas alguma discussão que merecesse, e fosse linear, ser seguida. Há no entanto diferenças significativas entre as caixas de comentários dos diferentes blogues. Umas são as que considero laudatórias: sobretudo usadas por outros membros do blogue e alguns fieis leitores desse mesmo blogue cuja função principal é louvarem-se mutuamente usando ao infinito expressões e formas várias de dizer “ai que giro!”, “gostei muito”, “obrigado por” ou “bom post”. Neste casos lemos facilmente uma ou duas dúzias de comentários que nada dizem a não ser estas banalidades: às vezes até me pergunto se não haverá uma política concertada de louvor para aumentar as audiências do blogue, uma vez que parto do pressuposto que quem escreve em blogues é suficientemente autónomo e “crescidinho”, e não precisa propriamente de ser incentivado ou acarinhado paternalisticamente.

Outro tipo de caixa de comentário são as abusivo-insultuosas. Estas geram grandes dezenas (às vezes ultrapassam a centena) de comentários e são sobretudo, mas não exclusivamente, frequentadas por aquilo a que chamaria de anónimos “puros e duros”. Insultam quem escreve o post, treslêem o que está lá explícito e constroem todo um pressuposto implícito impossível de ver a olho nu, e que muitas vezes é mostra de pura má fé. Postam um comentário a seguir ao outro, a um ritmo que atordoa e intriga. Este exercício, de gosto duvidoso e propósito nulo, de liberdade – que é como lhe chamam - rima pouco com responsabilização e é absolutamente dispensável a não ser que, neste caso também, as audiências fomentadas por estes verdadeiros ninhos de vespas sejam elas, mais do que a discussão livre, o objectivo. Há ainda outros tipos de caixas de comentários, por exemplo aquelas cheias de “private jokes” entre comentadores ou/e elementos do blogue que, podem ter graça para quem as faz, mas interessa pouco a quem as lê. E finalmente há as caixas bizarro-conspirativas: comentadores estranhos vindos não se sabe de onde que enchem as caixas de links para sites estranhos pejados de conspiração: muito cheias de névoa.

As listas de links.
As barras laterais das listas de links são outro dos elementos dos blogues que parecem ter vida e códigos próprios. Nem sempre os entendo. Por exemplo, nunca percebi porque, ao fim de dois ou três anos e sem que nada se tenha modificado nas opções, no estilo ou no tom do blogue em causa, se exclui um blogue da lista de links. Como quem tem um blogue faz o que quer e bem lhe apetece do dito, esta estranheza minha é realmente só isso: pura estranheza. As listas de links são também elas propícias a gerar “links de cortesia” de outros blogues incrementando assim as audiências de ambos, e dando visibilidade ao tráfico que conseguem gerar. Ao contrario das caixas de comentários que visito pouco, eu uso muito as listas de links dos outros blogues e já sei que blogues têm os links para este o aquele outro blogue que gosto de visitar, por isso noto qualquer alteração.

As audiências.
Sempre presentes como quem mede o tamanho disto ou daquilo. É justo. Um dos interessantes objectivos – tantas vezes claramente enunciado – de vários blogues da esquerda à direita é conseguirem ultrapassar as audiências do Abrupto que, por sinal, é um blogue individual. Tal fixação leva-me a concluir que se toda a balança tem o seu fiel, todo o blogue tem o seu Abrupto.

25.1.10

Dando Excessivamente Sobre o Mar 49

Joseph M. William Turner (1775-1851)
Fishing Boats with Hucksters Bargaining for Fish.
(clicando aumenta)

Lembro quando na minha (pós) adolescência, e do alto da minha sapiência (sempre), afirmava não gostar de pintura, talvez como contraponto ao meu gosto pela música e literatura, formas de arte e de expressão sem as quais eu não “saberia” viver. Poucos anos depois, e inesperadamente porque não gostava de pintura, não é?, senti na pele, nos joelhos e nos olhos, o efeito dos frescos da Capela Sistina. Tudo mudou, e desde então tem sido sempre com prazer imenso que folheio livros, vou a museus, e hoje que procuro, aprendo e escolho pinturas para o blogue. De vez em quando, num museu, num livro, na internet, há um quadro que absolutamente prende a minha atenção e me leva. Este é um deles.

Nada de Novo

Em matéria de saúde, e sobretudo quando o binómio vida/morte é equacionado, as decisões dos indivíduos tendem a ser conservadoras, isto é, confiam nas instituições da área: governos e organizações (Ministérios e Serviços de Saúde Estatais, OMS,...), nos profissionais (médicos, investigadores, enfermeiros,...), nas indústrias (farmacêutica) e nas empresas (hospitais, clínicas, ...), que acreditam estarem melhor informadas e habilitadas na recomendação de uma terapia ou de uma prevenção. Os indivíduos também acreditam, porque a vida fica muito mais fácil assim, que essas instituições quererem o bem das populações em geral e do indivíduo em particular, esquecendo tantas vezes que a saúde é mais do que uma preocupação individual, é também e/ou sobretudo um negócio, um grande negócio, que qualquer negócio existe para ter lucro, e que qualquer decisão ou medida governamental ou individual tem um custo. Como o paciente/doente é conservador na hora de optar, é-lhe muito mais fácil decidir não tomar a medicação para uma constipação do que decidir não fazer quimioterapia quando confrontado com uma doença oncológica ou até, e por exemplo, decidir não seguir o plano nacional de vacinas para si e para os seus filhos. A pressão institucional e social é forte e aumenta, tal como a incerteza e medo do paciente, nos ditos casos em que o binómio vida/morte está mais patente.

Na hora em que se fazem balanços sobre a gripe A e a suposta pandemia que (ainda?) não foi, há questões que e levantam, para além da óbvia e necessária reflexão sobre “quem é que mais lucrou com esta situação?”, ou dito de outra forma “follow the money”. Uma delas é a sensação de que às vezes, mais do que o indispensável, mas nem sempre firmemente conclusivo e sustentável saber científico, as decisões dos indivíduos são formadas por uma forte convicção ou por uma fé inabalável. No caso da Gripe A, a classe médica bem como as classes dos restantes profissionais da área da saúde mostraram-se divididas quanto à inocuidade e necessidade da vacina desenvolvida em tempo recorde pela indústria farmacêutica, e expuseram ao público a dissonância que existia no seio dessas instituições, em quem os indivíduos tanto confiam. Neste caso elas falavam a diferentes vozes; basta lembrar por exemplo o número de médicos e de enfermeiros que recusou ser vacinado. Todos nós conhecemos algum. Ao contrário dos profissionais de saúde, os governos que tomaram uma decisão política sobre a Gripe A, e serviços administrativos da área da saúde falaram (perceber o porquê será também interessante) com convicção e firmeza. Opiniões divididas, em quem se acredita?

A atenção dada pelos meios de comunicação a cada novo caso confirmado, primeiro no México, depois nos EUA, depois na Ásia, na Europa, em Espanha e finalmente em Portugal, ou a uma morte – como se se anunciassem nos media outras mortes, resultantes de doenças igualmente contagiosas, como a gripe sazonal, ou não, foi demasiada e por um longo período de tempo. Houve também um excesso de comunicados ou intervenções diários dos responsáveis nacionais pelos serviços de saúde, no caso português já ninguém conseguia ver e ouvir Francisco George, que cansaram uma população que depois do impacto inicial depressa percebeu que a maioria dos casos de gripe A se resolviam, felizmente, como qualquer outro caso de gripe: cama, repouso, paracetamol e alguma paciência, o que foi afastando progressivamente a equação vida/morte do caso da gripe A. Não houve por isso razão para ter uma forte convicção ou uma fé inabalável. Sobram, isso sim, milhões das vacinas compradas pelos governos que agora tentarão vender, provavelmente e comme d’habitude, a quem não precisa. Nada de novo.

24.1.10

Up in the Air


“Nas Nuvens” transporta-nos muito pouco para “as nuvens” e muito para um mundo ácido, muito vazio e solitário. Aliás a tradução de “Up in the Air” para “Nas Nuvens” pode prestar-se a algum equívoco, uma vez que “estar nas nuvens” é uma expressão que, em português, descreve uma sensação ou um sentimento de contentamento, algo alheio ao espírito do filme. Já o vi descrito como uma comédia, mas o riso que provoca, se é que o provoca, é amargo e todo o filme tem uma presente, embora nem sempre explícita, dimensão de hostilidade que causa estranheza e incómodo. Algumas cenas deste filme inteligente são memoráveis, as personagens também, a de Clooney (sim, confirma-se mais uma vez: é um excelente actor) e as femininas que são muito bem (re)tratadas e interpretadas, e que expõem a supremacia da imagem, da aparência e da eficiência do mundo que retrata e que, inevitavelmente, cada vez mais nos é familiar. As personagens se por um lado criam esse mundo, por outro vêem-se também, num momento ou noutro, reféns dele. E... O melhor é mesmo ver o filme.

21.1.10


Ao contrário do que se diz aqui, creio que não vamos precisar de esperar pelo que dizem os bloggers sobre o “evento” do jovem político cujo livro, de que ninguém se lembrará daqui a um ano ou dois, é lançado hoje. As televisões não tardarão a encher os ecrãs da juventude e mudança que serão amplamente apregoados, estou certa. No entanto é pena “aquilo” do Sá Pinto, outro jovem que nunca desilude, que poderá, logo nas televisões, roubar algum protagonismo.

Enquanto isso, Manuela Ferreira Leite, avalia o Orçamento de Estado para 2010; mas o OE não é notícia que abra jornais televisivos.


20.1.10

Amanhecer 22

Hoje, depois de semanas de cinzento.

19.1.10

Pedro Passos Coelho teve hoje a seus pés (vi na televisão) uma comunicação social atenta, agradecida e obrigada na apresentação do seu livro com título de inspiração obamiana e com capítulos de títulos giros, tipo “De Boa Saúde”. Depois do que li nesta notícia do “i”, gostei especialmente da parte sobre “medicamentos”. Uma proposta interessante numa área e com uma classe com quem tem sido fácil para os governos trabalhar.

É tão fácil pôr meia dúzia de chavões políticos simpáticos e razoavelmente consensuais em livro. Mas desengana-te Manuela, tu, mesmo que escrevesses os Lusíadas, só terias direito a 22 segundos de notícia e 15 de filmagem que, por coincidência seriam na altura precisa em que a tua cara estava numa posição estranha.

Godspeed

Vou sentir a falta daquela que tem sido uma das minhas preferidas protagonistas de vários posts fotográficos. Falhei a partida, mas talvez consiga registar o regresso daqui a 11 meses.

16.1.10

Espuma dos Dias que Foram 30


Um Estilo

Não quero, não consigo e não gosto do “estilo” José Sócrates. Ontem, na AR, aquele que sistematicamente se diz vítima de calúnias e ataques pessoais foi, mais uma vez, deselegante no seu ataque à líder do PSD - a propósito do PEC - com pequenas e maldosas, insinuações do género: “É tudo muito simples para quem já desistiu de liderar (...) e para quem quer ir embora” (ver aqui). Isto porque Manuela Ferreira Leite ousou desmontar o “estilo”, a forma de fazer política e a má-fé do governo ao denunciar o anúncio diário de medidas com implicações orçamentais antes da discussão orçamental. José Sócrates está muito enganado: MFL não é do “género” de desistir, e não o faz, sendo contundente nas suas intervenções e sempre presente no cenário da discussão política nacional, pese este facto a muitos, nomeadamente e especialmente a um sector do PSD que minimiza as suas intervenções pois gostaria que ela se tivesse demitido do cargo para que foi eleita no dia seguinte às eleições legislativas.

MFL, como sempre, esteve certeira, mas nunca na comunicação social as suas palavras encontram o eco que merecem. Mesmo não gostando dela, do seu "estilo", mesmo achando-a sem jeito e sem piada, mesmo achando a “velha” (mas já Manuel Alegre, esse, não é “velho”), as suas intervenções enquanto líder da oposição mereceriam, numa sociedade menos “asfixiada comunicacionalmente”, destaque e discussão. De facto, neste mundo pateta, é melhor ser engraçado do que ter graça.

O líder do CDS foi oportuno ao dizer que “quando se negoceia, não se ameaça”, pois estar num processo negocial ameaçando é mais uma prova (como se precisássemos de mais) deste “estilo” que transpira má-fé e muito “à Sócrates”. Primeiro, e pela voz do seu ministro das Finanças, tenta condicionar o PSD e o CDS ameaçando uma subida de impostos caso este mantenha na mesa negocial a proposta do fim do PEC e a revisão da Lei sobre as Finanças Regionais.”. Num momento posterior, e porque a ideia de subida de impostos começa a ser em Portugal e finalmente, cada vez menos popular e cada vez mais olhada com desconfiança, José Sócrates “explica” que o governo não “quer” aumentar impostos e, vitimizando-se (outra das faces do “estilo”) diz que o governo é que está refém das votações da AR.

Tempos difíceis se adivinham, sobretudo para o PSD, nesta fase negocial sobre o orçamento com este governo liderado por José Sócrates, e que, em bom rigor, não sei se deveria ou não ser viabilizado. Sobrará sempre para o PSD. Será preso por ter cão e preso por não ter.

15.1.10

Sherlock Holmes


Recentemente Robert Downey Jr. e Jude Law (os dois juntos no mesmo filme é algo a não menosprezar), foram os (dois) únicos motivos que me levaram a ver “Sherlock Holmes”, filme de Guy Ritchie que para além dos actores prometia pouco. Confesso que não esperava nada do filme – eu não gosto de filmes de “efeitos especiais” e não gosto de demasiada acção traduzida em explosões contínuas e ruído ensurdecedor. Mas o filme surpreendeu-me: os diálogos eram vivos e divertidos cheios de um humor que, sem ser muito sofisticado, era inteligente, as personagens (Holmes e Watson) foram levadas ao extremo das suas "personalidades" mas, e inesperadamente, nunca se tornaram caricaturas pouco credíveis das personagens que já conhecemos, aspecto que me parece ser a força do filme. Downey Jr. & Law formam uma dupla fantástica, mostram os bons actores que são, enchendo o ecrã e prendendo-nos a cada segundo. Li muitos dos romances de Sir Arthur Conan Doyle e vi incontáveis episódios da série protagonizada por Jeremy Brett. A imagem que temos de Sherlock Holmes é, apesar de extravagante, muito mais contida do que filme de Guy Ritchie, onde se ousa romper com essa ideia de Holmes que se foi, ao longo de anos, estabelecendo no sub-consciente de tantos.

Agora impera o exagero: na criação das personagens; na recriação visualmente exuberante de uma Londres vitoriana; nos cenários interiores desenhados ao pormenor e de uma arquitectura cuidada (o filme é cheio de “arquitectura”), no guarda roupa, nos adereços, nas explosões, e até no barulho e estrondos repentinos. O filme tem também um aspecto infantilmente lúdico e “clean”: não há mensagens morais, não há culpas a expiar, não há causas fracturantes nem grandes dilemas éticos, o que é, diga-se, um alívio. Não será uma obra-prima, mas surpreendi-me e diverti-me, coisa que nunca deve ser negligenciada.

13.1.10

Espuma dos Dias que Foram 29


Dos Broncos

Nada pior do que programas de humor que não fazem rir, sorrir, ou mesmo abrir mais os olhos. Nada pior do que o insulto com capa de "humor". De tanto ver referências em diversos blogues, acabei por querer saber e fui ouvir isto na TSF. É verdadeiramente interessante. Revela a pequenez de quem – achando-se muito “à frente” e muito “esperto”, não percebe patavina do assunto que em primeiro lugar o leva a fazer essa coisa a que chama humor e que mais não é do que uma sequência gratuita, sem nexo (nem graça) de insultos e ofensas pessoais. São todos muito “fracturantes” para as causas efémeras e luzidias que a modernidade inventa. Recusam, no entanto, com a indignação e escândalo próprios da bronquice e ignorância, a abordagem de matérias realmente fracturantes e de difícil abordagem e discussão e que têm sido, ao longo dos tempos, expressão da diversidade e e das incoerências do comportamento humano. É sempre mais fácil (também aqui nada de novo) insultar o mensageiro do que pensar e debater a mensagem. Sempre passar por cima das coisas, tratar do brilho das superfícies e pensar o impacto (muito importante o “impacto”): é tão “tá-sse!” dizer (só dizer, nada de explicar) palavras como “pederastia” às 9h20m da manhã na TSF.
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12.1.10


Já está. Apesar da associação ser óbvia, não foi à primeira que consegui compor o título: “O Primeiro-ministro, a Mulher, o Talhante e o Filho Deste”. Impossível não fazer este paralelo e, de repente, perceber que foi nos anos 80 que vi (e me diverti) com filmes como The Draughtsman’s Contract, Drowning by Numbers e, como é óbvio, o The Cook, the Thief, His Wife ans her Lover, e que nunca mais vi nada de Peter Greenaway. Um estilo muito peculiar e a vontade de rever alguns dos filmes.
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10.1.10

Coisas que se podem Fazer ao Domingo 45

Antonio Gai
Meleager


Tentar perceber porque não se tem frio quando se caçam javalis.

8.1.10

Ouvi há pouco a constitucionalista Isabel Moreira falar em Avanço Civilizacional na RTPN. Este argumento (que parece estar a criar história) soa-me como revelador de novo-riquismo civilizacional, isso sim. A aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo é tão somente uma inevitabilidade (mais cedo ou mais tarde) dos tempos em que vivemos. Sinais dos tempos.

Entretanto a taxa de desemprego sobe: infelizmente mais um sinal dos tempos.

Um Pouco de Bom Senso Nunca Fez Mal a Ninguém

Por isso saúdo o fim da conflitualidade entre o governo e os professores. Dizem que o óptimo é inimigo do bom, e acredito que este acordo não seja o ideal para nenhuma das partes, mas foi o possível e creio que o facto de se declarar findo o período hostil é, só por si, uma coisa boa para a sociedade em geral e para as escolas em particular. Acredito também que ambas as partes estivessem interessadas e empenhadas em procurar um acordo e o bom senso impôs-se, depois de anos de finca-pé e de inabilidades. Ainda bem.

Depois de tranquilizado o ambiente na educação, talvez fosse uma boa ideia dar alguns passos em frente e trabalhar em duas ou três ideias de fundo (que não são novas e às quais já me referi noutras ocasiões) para melhorar a educação em Portugal. Primeiro, reduzir a burocracia, o excesso de relatórios e da tanta papelada a que os professores hoje estão sujeitos e que rouba tempo aos professores cuja prioridade deveria estar centrada no ensino e na sala de aula.

Em segundo lugar, dar uma maior autonomia às escolas, quer na contratação de pessoal docente, quer no estabelecimento de regulamentos internos próprios, nomeadamente no que se refere à forma de lidar com a indisciplina, quer no desenvolvimento de projectos curriculares próprios (já nem ouso falar na definição dos programas a leccionar, e das disciplinas instituídas).

Em terceiro lugar ousar algo de importante para a credibilização do ensino: a separação institucional (uma privatização, por exemplo) da tarefa de avaliação dos alunos da tutela do Ministério da Educação, medida que me parece fundamental para uma avaliação realmente independente das circunstâncias e das pressões políticas (anos eleitorais, necessidade de melhorar as estatísticas de sucesso escolar, etc) e mais consistente.

7.1.10

Là-bas, Je Ne Sais Pas Où... 4





José Sócrates disse hoje que coube ao Estado resolver a crise desencadeada pelo sector financeiro que critica o peso do estado. Falou como se a crise fosse algo do passado eficientemente resolvida e despachada pelas boas medidas do seu governo (o dito estado). Por mais voltas e reviravoltas que o Primeiro-ministro e o seu governo dêem a crise não acaba com anúncios do seu fim, nem de luzes ao fundo do túnel que alguns vêem nem tão pouco com as medidas que ele anunciou com uma cadência atordoante no ano que passou e em vésperas de eleições. Notícias diárias como esta confirmam-no e são a face da crise a atingir os portugueses da pior maneira e que o Estado não resolveu, nem tem que resolver – tem somente que desviar recursos para quem mais sofre e para estimular a produtividade. Por outro lado, números como este do endividamento externo mostram também que o “bom velho Estado” poderá ser velho, mas talvez não seja assim tão bom.

5.1.10

Itinerante e Improvisada

Hoje as notícias que fui ouvindo ao longo do dia eram... eu diria, diferentes. Falava-se em casamento homossexual, em referendo ao dito casamento, na criação da figura de união civil registada, que parece ser igual ao casamento homossexual, com os mesmos direitos, só que não se chama casamento. Depois disto, ouço que a Associação de Empresários de Carroceis que se manifestou hoje na Caparica e é recebida pelo PSD, protesta contra o decreto-lei que regula o licenciamento de carrosséis em recintos itinerantes ou improvisados. Que agenda noticiosa a de hoje!

Sem querer desmerecer a causa daqueles que partilham vida e economia (homossexuais ou não) e se sentem discriminados em relação aos direitos que o casamento concede e, por outro lado, confessando a minha ignorância sobre a causa dos empresários de carroceis e a eventual bondade do protesto, atentei nas palavras itinerantes e improvisadas. O puzzle parece encaixar-se: são as palavras adequadas para descrever, entre outras coisas que me absterei de mencionar como a Justiça, por exemplo, a intenção e a produção legislativa do país: itinerante e improvisada.

4.1.10

Plataforma Contra a Obesidade 57


Percebi agora porque é que não me apetece ver Avatar. Trata-se de um aparatoso filme de entretenimento, com quase três horas de efeitos 3D que deixam qualquer espectador exausto, com o sentido da visão momentaneamente perturbado, (mas feliz por isso). (Em A Terceira Noite, e os parentesis são meus de forma a não modificar o sentido geral do texto). Eu não quero ficar exausta e dificilmente ficaria feliz estando-o depois de três horas de efeitos 3D que deixam o sentido da visao perturbado. Para mim dez minutos de "efeitos especiais" já me deixam cansada e enfadada. Imagine-se três horas de "efeitos 3D" que requerem óculos e tudo. Parece que há matérias em que sou uma real conservadora mas, quem sabe, talvez mude de opinião quando sair o DVD e eu puder ver o filme em casa em pequenas porções.

Ao contrário de Avatar, já Rosebud me entusiasma. (Basta olhar para os nomes). Eduardo Pitta, agora a solo no Da Literatura que completou recentemente cinco anos de existência, dá-me razões para querer ler Rosebud de Pierre Assouline, um “escrutinador de almas", que procura o Rosebud de cada biografado.


Cortex Frontal, a nova casa de José Medeiros Ferreira e um novo blogue a seguir.

Este fim/início de ano blogosférico mais parece o período de transferências e de compras e vendas do mundo do futebol.


João Gonçalves, no seu melhor estilo cáustico, diz-nos onde foram parar os ex-“Corta-Fitas”. Impossível não rir.

Espuma dos Dias que Foram 28



Polvos que Dão à Costa

De regresso ao nosso país fustigado pela chuva e vento, aqueço a casa, ligo a televisão e vejo que a notícia de destaque são as toneladas - ou centenas ou milhares, não percebi bem devido à nossa endémica falta de precisão numérica (que, note-se, parece nunca ter afligido nada nem ninguém, por muito estranho que possa parecer), de polvos que deram à costa e uma perna ou pé (também aqui ouvi e vi dados divergentes que pouco interessa apurar, diga-se) humano calçado. Este pormenor é que não falhou, como se a presença do sapato (ou bota) fosse o cerne da preocupação deste insólito caso.

Depois ouvi e li sobre a Mensagem de Ano Novo do Presidente Cavaco Silva que ao que parece se mostrou firme nas suas convicções sobre o estado do país, acabou com os equívocos sobre ingovernabilidade e – dizem – deu sinais de uma recandidatura. Hoje de manhã, entre nadas noticiados, vejo aqui denunciada mais uma manobra “criativa” de camuflar, esconder e iludir a verdade por parte do executivo de José Sócrates. Nada de novo, portanto.

O país começa o ano de 2010 com o mesmo entusiasmo com que acaba o de 2009. A única diferença parece estar nos polvos que dão à costa.

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