holehorror.at.gmail.com
29.2.08
Pronúncia do Norte 2
Hoje ao entrar numa sala ouvi duas mulheres novas a falar. Algo estranho e familiar: o sotaque tão deslocado no local, mas tão conhecido. Disse, sem as conhecer, que parecia que estava na minha terra. No Porto? Sim, no Porto. Ah, explicaram elas, já cá estamos há três anos. Uma há mais tempo, outra há menos, a trabalhar. O mercado de trabalho lá está péssimo, diziam. Eu gosto do clima de cá, mas se pudesse voltava para lá, dizia uma, eu já não sei, dizia a outra. Ouvia-as e pensava no que sempre ouço quando vou ao Porto ou quando alguém do Porto vem cá: que tudo está mudado, que as empresas não sobrevivem, que o tecido empresarial é fraquíssimo, que o país está cada vez mais centralizado, que o Porto empobrece a olhos vistos, que o Norte já não é o que era, que quem é ambicioso tem que vir para Lisboa, que cada vez mais tudo se decide em Lisboa, que Lisboa enriquece. Enfim, um sem fim de lamentações. Se é verdade que vejo muita mudança no Porto, muitas certezas abaladas, muitas vidas transformadas, famílias instabilizadas, também vejo em alguns locais, lojas das mais caras do país sempre com gente e um parque automóvel de fazer inveja. Fenómeno pontual, e muito localizado? Provavelmente. Mas lamento esta tristeza das pessoas no Porto que está tão mais arranjado e mais convidativo.
Pronúncia do Norte
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28.2.08
Explicar a “razoabilidade política e sustentabilidade económica”, assim diz Luis Filipe Menezes, com ar sério e ensaiado, na SIC acerca da sua proposta sobre a eliminação da publicidade na RTP. Não discuto a proposta, pois uma expressão destas com duas palavras de sete (7) sílabas, e a sair tão espontâneamente só pode ser sinal de uma boa ideia.
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27.2.08
26.2.08
Reformar
No Mar Salgado, FNV tem, sob o título A Oriente do Oriente, exposto interessantes mosaicos sobre o Islamismo como pretexto para um debate. Desta vez detem-se na questão da reformabilidade do Islamismo e das sociedades islâmicas. Esta é mais uma questão complexa, porque a reforma de qualquer sociedade o é, e porque ainda é mais complexa no caso do Islamismo em que a religião e a própria sociedade, leis costumes, se misturam não sabendo onde uma começa ou onde acaba outra. Qualquer questão que se coloque sobre o Islamismo terá que ir parar à essência do próprio islamismo, à religião, à crença à forma como essa religião e a Revelação Divina são vividos. Com as sociedades cristãs que separam há muito a religião da sociedade e dos poderes políticos e judiciais, e que têm tido como mote “dai a César o que é de César, e dai a Deus o que é de Deus”, é mais fácil delimitar as fronteiras da religião. Com o Islão é quase impossível e quando se tenta estabelecer uma sociedade laicizada (Turquia, Pérsia), há um dia um retorno com a pressão dos sectores mais “fundamentalistas” – que não serão necessariamente terroristas, note-se.
Este facto tem uma raíz teológica, ou de falta de teologia ou mesmo de exegese, ou falta dela, e tem a ver com a forma como a Revelação Divina é olhada. Para um muçulmano o Corão é a Revelação, é a palavra de Deus. É mesmo Deus que disse aquelas palavras daquela forma e o livro transmite fielmente o que Deus pensa, quer e disse. Como o Corão é o centro da vida de um muçulmano e porque regula todas as áreas da vida, quer da vida íntima quer da vida social, é muito difícil “reformar” uma sociedade, tal como nós concebemos a noção de reforma, isto é uma reforma no sentido de valorizar a liberdade individual total (ser livre de ser ou não muçulmano, ser livre de se converter a outra religião ou simplesmente ser livre de explicitamente, mas sem escândalo, não fazer o Ramadão, por exemplo), e uma igualdade de direitos e oportunidades para ambos os sexos. Será que alguém concebe homens e mulheres a rezar juntos numa mesquita? Porque é que, na mesquita, as mulheres têm que estar segregadas, num primeiro andar com tecto baixo e apertadas e com grades para não serem vistas? As coisas podem mudar em Marrocos com mais mulheres deputadas, podem mudar no Dubai com mulheres em lugares de topo na vida empresarial, na Turquia com mulheres tão iguais a nós, mas enquanto não rezarem ao lado dos homens na mesquita ou, pelo menos, nos mesmos locais que os homens usam, nada muda no fundo. Enquanto um muçulmano não for livre de não ser muçulmano, nada muda no fundo. Pode-se decretar a secularização duma sociedade, como na Turquia e proibir o uso de véu nos locais públicos, mas um dia, pouco a pouco a pressão da religião far-se-á sentir e a sociedade retomará devagar ou depressa (Pérsia que ficou Irão) os caminhos do Corão.
Qualquer reforma, para o ser, terá que passar ou pelo afastamento das leis e preceitos religiosos, ou por uma nova maneira de olhar e debater a própria Revelação de Deus. Não vejo outra forma, e esta parece-me do domínio da utopia. Mas por passar a mensagem da dificuldade (impossibilidade?) de reforma do Islão, recuso a "culpa" de estar a condenar as mulheres muçulmanas ao castigo dos taliban. Apesar de ser uma expressão retórica, não quero cair na tentação de achar que aqui, no Ocidente do Ocidente, somos os culpados do que se passa no Oriente do Oriente.
Procuradoria-Geral da República abre inquérito ao processo do Casino Lisboa. Será que ainda há alguém que ainda crê? Será que há alguém que não sente nausea perante este rodopio de abertura de inquéritos que invariavelmente param na gaveta? Eu quero notícias sobre o fecho e os resultados claros dos inquéritos que se abrem.
Impossível não gostar de Sarkozy. Eu tento, pois tantas vezes me desagrada a sua postura, as suas decisões precipitadas, os seus humores incontroláveis. Mas deve ser isso, essa fragilidade, essas fraquezas expostas e que ele nem tenta disfarçar gostando desse "ser igual a si próprio", talvez acreditando-se especial ou imortal, alguma dessas coisas que os heróis acreditam ser e que afinal só remetem a uma enorme humanidade.
25.2.08
Como se a Culpa Fosse Deles
Ouvi, estes dias desabafos de duas pessoas diferentes, que nem se conhecem, que vivem vidas bem diversas, em locais distintos e que têm opções políticas que raramente devem coincidir. Ambas trabalham para o estado, uma na área da saúde, outra na área da educação. O que foi revelador, mas nem chegou a ser surpreendente, foi o facto de os desabafos e queixas serem tão semelhantes quer no conteúdo quer no tom.
Ambas se confessaram física e psicologicamente exaustas e esgotadas, no limite, ambas estavam preocupadas com a sua capacidade de resistência e com a sua saúde, ambas se queixaram das longas horas de trabalho, da exigência de novas tarefas que consideram inúteis e que ambas vêem como um aumento de intendências e burocracias quase sempre inúteis: elaboração de actas que ninguém irá ler, elaboração de relatórios a propósito de tudo e de nada, picar o ponto a horas certas, nomeadamente à hora de almoço mesmo quando se está envolvido numa tarefa que terá de ser interrompida, reuniões, avaliações cheias de parâmetros complexos, objectivos discutíveis e competências tantas vezes sem nexo, sobre os quais há que escrever e discorrer.
24.2.08
Houve Sangue
Num período em que tenho ido ao cinema mais vezes do que o habitual, confesso minha perplexidade quando um filme que vejo me suscita sentimentos e opiniões tão diametralmente opostas àquelas que leio escritas pelos críticos. Ninguém nunca olha de forma igual para um mesmo objecto, mas normalmente e mesmo que a adesão, opinião e impressão final em relação ao objecto, neste caso um filme, seja divergente costuma haver uma concordância nisto ou naquilo: uma forma de olhar que coincidiu, uma apreciação ou uma sensação. Este preâmbulo a propósito de Haverá Sangue, um dos filmes mais louvados da temporada e com mais nomeações para os Óscares que serão atribuídos esta noite. Sem negar a qualidade e rigor dos aspectos técnicos, algo que reconheço sem no entanto saber ou perceber bem, nem negar alguma agradável contenção, o filme foi um dos mais desagradáveis que vi ultimamente. Feio, aborrecido, monocromático - dos tons castanhos ao negro viscoso do petróleo a cansar a vista, demasiado preguiçoso, mas com capa de subtileza na abordagem do binómio tão americano da dicotomia empreendedorismo, capitalismo e desenvolvimento por um lado e puritanismo espiritualidade e temor a Deus pelo outro, e dependendo inteiramente de um Daniel Day-Lewis que foi igual a si próprio e muito previsível, no sentido em que se supera como actor para se fazer como personna mas que, uma vez encontrado o seu “tom”, percorre todo o filme sem outras modelações na composição da personagem. Entre esta performance e a de Viggo Mortensem em Eastern Promises, (o outro nomeado para o Óscar de melhor actor que vi), nem hesitaria em escolher este último.
Como filme épico é pobre, como história de um homem só e que só sabe fazer uma coisa, é longo e aborrecido sem nada que atraia o espectador normal que gosta de ir ao cinema, e não falo de rodriguinhos, falo de um qualquer pathos. A banda sonora é rigorosamente de fugir o que condiz com o resto do filme, e aí a coerência é grande, e é demasiado “esperta”, despojada e agressiva. Talvez daqui a uns anos, quando me esquecer de quão desagradável foi ver o filme, possa revê-lo e descobrir o que agora não descobri. Para já, e para mim, o rei vai nu mas não sei se logo não irá com um ou mais Óscares na mão.
20.2.08
19.2.08
18.2.08
17.2.08
Lust, Caution 2
16.2.08
Lust, Caution
Uma das qualidades do Lust, Caution de Ang Lee é a de ser um filme para adultos, uma coisa que vai sendo rara nas nossas salas de cinema onde quase todos os filmes apelam a um público jovem. O filme é longo, lento, algo formal, apela à paciência do espectador, mas é forte, difícil, sensível e subtil. A faceta épica e exterior do filme que se passa na China durante a ocupação Nipónica (2ª Guerra Mundial) é discreta e cede sempre lugar à interioridade da intriga, à tensão e à ambiguidade entre as personagens. A sexualidade é o pólo central da tensão, e sim, há cenas muito explícitas, o que é uma aposta ousada do realizador, mas elas são bem conseguidas. Numa plateia onde não havia “jovens” entre os espectadores, algumas pessoas abandonaram o filme bem antes do final. Eu fiquei cravada à cadeira. Um bom filme de Ang Lee. Talvez o melhor dos que eu vi.
14.2.08
13.2.08
E eu, e Tu
E eu, e tu,
Perdidos e sós,
Amantes distantes,
Que nunca caiam as pontes entre nós.
Museus em Madrid 2
Desde que me lembro de saber que existe pintura que me lembro que El Greco existe. O pintor que, era assim que eu o conhecia, fazia as pessoas longas e puxadas para cima. Uns anos mais tarde, e numa visita a Toledo, guiada por um amigo espanhol mais velho, conhecedor e coleccionador, num dia cinzento e muito frio, em frente às pinturas de El Greco fiquei surpreendida com a cor e a luz dos seus quadros e de quão fria eram. O meu amigo também me ensinou a olhar para os olhos das personagens pintadas por El Greco, outro dia falarei sobre isso. Fiquei surpreendida com essa frieza porque se Espanha era fria no inverno, era quente, quente demais, no verão e nós associamos a Espanha mais facilmente a noção de calor do que de frio. A surpresa também era grande porque os pintores flamengos (Flandres e Holanda) do mesmo período (tenho, ao longo do tempo, colocado aqui no blogue alguns exemplos e já escrevi o meu elogio – um - à pintura flamenga) apesar de virem de países mais frios, pintavam quadros mais quentes. Mas Espanha é uma noção moderna e abstracta. Se pensarmos Castela já a noção de frio se desenha de uma forma mais natural no nosso imaginário.
12.2.08
Museus em Madrid 1
Na semana passada nos museus de Madrid, sobretudo no Rainha Sofia e no Thyssen pois visitei-os de manhã, vi vários grupos de crianças, algumas bem pequeninas, sentadas e semi circulo em frente a um quadro a ouvir e a conversar com o guia sobre ele. O guia estava também sentado à frente no chão para não perturbar a visão das outras pessoas que literalmente enchiam os museus. Por trás das crianças juntava-se um grupo de adultos visitantes que assistia à explicação e diálogo do guia com as crianças. Olhando para o quadro ele fazia perguntas sobre o que elas viam, sobre o que não viam, guiava-lhes o olhar, ouvia as suas explicações e explicava o porquê do tema, de uma cor, do traje das personagens, de uma perspectiva, de uma composição. As crianças sentadas em frente ao quadro tinham tempo para o apropriar e sobre ele discorrer e imaginar. O entusiasmo delas era o espelho do entusiasmo do guia que fazia o que era suposto fazer – guiar o olhar mais inexperiente – também com entusiasmo e amor à obra. Não fiquei com a sensação de que estavam ali no emprego a ganhar umas coroas, que certa e justamente estavam, fiquei com a sensação que eram amantes de pintura e que sabiam transmitir essa paixão.
Lembrei, e em contraste com o que acabei de escrever, o relato de uma visita recente de turmas de um colégio ao Museu Nacional de Arte Antiga em que um, neste caso uma, entre os guias, com pastilha elástica na boca, cara de frete e impaciente, mal respondia às perguntas dos guiados, prolongou demasiado algumas explicações históricas e não lhes mostrou “o” quadro mais importante do museu, As Tentações de Santo Antão de Bosch, nem conseguiu entusiasmar ninguém com os Biombos de Namban. O resultado foi o esperado: “que chatice!” “detesto museus!” Mas também, porque é que me passou pela cabeça que poderia ser diferente?
11.2.08
10.2.08
O Projectista 2
As fotografias dos projectos assinados por José Sócrates e que ele assumiu como seus, foram como um balde de água fria que se despejou por cima do ambicioso militante do PS, ex-Ministro do Ambiente preocupado com o planeamento, e agora Primeiro-ministro regulador, liso, que faz jogging, que cita nomes sonantes a torto e a direito, faz férias cosmopolitas, evita o colesterol e que calça sapato Prada. E foi um balde de água fria por cima de todos nós que nos preocupamos com estética, preservação do património e vemos nos azulejos exteriores, nas varandas ampliadas, nos acrescentos descaracterizados e nos telheiros fora de contexto modelos de mau gosto, desordem, terceiro-mundismo e símbolos tão presentes e visíveis de um Portugal pouco educado e culto que não evolui e não se desenvolve. Ninguém fica indiferente perante a banalidade e a ausência de qualquer preocupação estética quando olha para os resultados destes pequenos projectos, e a perplexidade é muita, sobretudo porque tão dissonante do seu posterior percurso político traçado a tinta da china com régua e esquadro, para que nada saia do lugar, e os seus antecedentes familiares (o pai de JS é arquitecto) que não deixavam prever a sua assinatura em tais calamidades estéticas.
Hoje e perante o nosso Primeiro-ministro, como é que nos podemos impedir de olhar com olhos de ver e de analisar o seu percurso técnico e académico? Como é que é possível não tirarmos conclusões? Conhecemos os resultados dos seus projectos, lemos o seu exame de Inglês Técnico, sabemos dos seus exames ao Domingo, enfim, confrontamo-nos com improbabilidades, coincidências e erros que escondem, tudo leva a crer, mentiras e provavelmente ilegalidades. O desconforto perante a pessoa de José Sócrates é grande, e para além de uma questão de carácter é também uma questão política. Num percurso onde vale tudo, sem rumo que não a ambição e a concretização, caótico e dissonante, como podemos hoje olhar para o Plano Tecnológico sem rir ou para o Simplex com confiança? Como podemos enquanto eleitores e cidadãos assistir aos saltos de dúvida em dúvida perante os grandes investimentos sem perplexidade ou acreditar na seriedade e bondade das políticas reformistas ou mesmo perceber o rumo que é traçado para o país? Os “casos Sócrates” I (académico) e II (técnico) não são fait divers, não são intromissões sem importância num passado longínquo de duendes maus e de fadas boas. O percurso passado do nosso PM enquanto militante de um partido político onde se fez politicamente interessa, é revelador de um carácter e de um estilo. Eu não gosto.
Véu Islâmico 9
A saga sobre a aplicação sa Sharia continua no Reino Unido. Uma série Q&A aqui à boa maneira anglo-saxónica.
Este tema é interessante para descobrir algumas nuances do Islamismo, nomeadamente o Islamismo “moderado” um produto essencialmente do ocidente e com nenhuma sustentação teórica ou doutrinal, que se faz com base na “boa vontade” de sectores islâmicos que não querem estar em conflito com as sociedades ocidentais onde vivem e que não querem nem negar a modernidade nem abraçar o extremismo. No entanto, e para já, esta moderação é ainda frágil. Parece-me também, interessante reflectir sobre a nossa noção de liberdade de escolha, tida tantas vezes como um bem absoluto e que se baseia numa noção de igualdade que está totalmente ausente do islamismo e da própria Sharia. A mulher, e a rapariga, enquanto seres menores que são tutelados ao longo da vida, pelo pai, irmão, marido, cunhado, não têm essa liberdade de escolha. A liberdade e igualdade não são dados adquiridos em todo o lado e é bom ter sempre essa noção presente.
8.2.08
O Projecista
Nos anos oitenta quando José Sócrates assinou os projectos de engenharia técnica (remodelações, ampliações, melhorias), cuja autoria assumiu plenamente pois eu ouvi-o na televisão a declará-lo com ênfase, de que tanto se tem falado, ele já era tinha iniciado a sua carreira política ascendente no PS. Assumo eu também de boa fé perante as afirmações do PM, que a autoria dos projectos realmente dele e parto do princípio – só para benefício do meu texto – que ele não assinou de cruz projectos de outros. Como também nada sei sobre incompatibilidades, não será também sobre isso que me vou deter. Deter-me-ei no problema e peso que o passado pode ser quando não se sabe assumi-lo com elegante ternura e desprendimento, determe-ei sobre o facto de os padrões do passado tenderem a repetir-se no presente e no futuro e deter-me-ei na dissonância e vácuo que é o percurso do nosso PM revelado pelos aspectos estéticos e de planeamento. E tudo isto somado é impossível não ter um esboço revelador de carácter.
Sobre o passado. Creio que todo o ser humano se fez e faz com opções que nem sempre terão sido as mais ajuizadas e coerentes e de que não nos orgulhamos enquanto actos e isso não é necessariamente um problema, bem pelo contrário, pode ser ponto de partida para reflexão e aprendizagem se o orgulho tonto e a estupidez não cegarem e deixarem evoluir. Não nos orgulharmos está longe de ser sinónimo de ter vergonha. Há uma outra opção mais natural, que é o assumir das incoerências, maus juízos e outros actos menos razoáveis e ser tolerantes até para connosco. Esse desprendimento e naturalidade parecem ser impossíveis ao nosso PM que tenta sempre de forma forçada e pouco natural transformar numa virtude digna de nota e louvor cada passo oblíquo e de duvidosa justeza e legalidade que – com surpreendente regularidade e facilidade lhe descobrem no seu passado. Este constante deitar areia para os nossos olhos com arrogância e altivez, de quem não percebe que está em cima de um monte de despojos e sucata e se pensa mais alto, é uma das piores e mais irritantes características de JS. Mais do que os pecadilho da juventude, as prováveis mentiras e ilegalidades do seu percurso, é a arrogância de uma coreografada maturidade em tom sempre moralista de dedo em riste que é tão difícil de engolir, digerir, tolerar e perdoar. Que não restem dúvidas que sobretudo por isto os seus “pecados” estão longe de serem “perdoados”, mesmo sendo a memória curta; porque e a dúvida e o “feeling” esses, serão persistentes.
(continua)
7.2.08
O Corta-Fitas, um dos blogues mais simpáticos da blogosfera está em festa e está de parabéns pelos dois anos de existência. Parabéns também ao Pedro Correia, um dos fundadores e autor de algumas das melhores séries da blogosfera. A Melhor Década do Cinema é uma delas.
Sobre arquitectura de emigrante e José Sócrates um bom artigo de Helena Matos aqui e uma pequena discussão sobre arquitectura e estética de projectos neste post e comentários Quase em Português. Voltarei a este assunto: José Sócrates, o passado e respectivos esqueletos no armário, projectos de gosto duvidoso, assinaturas falsas, influências, responsabilidades, incompatibilidades e demais promiscuidades.
Véu Islâmico 8
6.2.08
Desaprender
Miró é um caso distinto. Como com tanta coisa na vida também com Miró o meu olhar mudou, e o que era já não é. Assim hoje, em frente dos seus quadros, de todos os formatos, de todos os tamanhos e de todas as cores, o espanto foi muito: aqueles fios (linhas, curvas?) compridos e pretos com bolas nas pontas e outras bolas maiores, com ou sem olhos (?) espalhadas pela tela, às vezes com côres primárias, outras mais acizentadas ou simplesmente a preto e branco, deixaram-me surpreendentemente indiferente. Nem gostei nem deixei de gostar. Aquela linguagem pareceu-me vazia e irrelevante. Um ou outro quadro talvez tivessem provocado um “que giro!” mental, algo que é verdadeiramente insuficiente e banal. O desconforto da desilusão, pois se eu percebo que se “aprenda a gostar” de uma qualquer manifestação de arte, já me é muito mais dificil perceber o contrário, talvez porque menos usual, e perceber que se desaprenda de gostar ao ponto da indiferença. Porque é que o feitiço se perde, porque é que a leitura, o sentir e a adesão se modificam assim afastando-nos?
1.2.08
Excesso de zelo
Ando com vontade de escrever sobre o excesso de zelo que motiva tanta da legislação mais recente e que impera naquilo a que tenho chamado de nova ordem moral que hoje se tenta estabelecer. Não é um fenómeno exclusivo português, mas aqui no nosso país assume uma dimensão um pouco mais patética devido aos brandos costumes em que habitualmente todos nos movemos. Os brandos costumes não sendo motivadores de grandes mudanças sociais de desenvolvimento ou de grandes revoluções e sendo campo fértil para imobilismo e hipocrisia, são também mais brandos. Numa sociedade em que ninguém está de acordo sobre o que é a corrupção e em que os seus limites são desfocados, amplos e variam de pessoa para pessoa, momento para momento, circunstância para circunstância, em que a noção de ética é simplesmente colada à noção da legalidade: se é legal é ético, se não é legal não é ético, (pobres filósofos e pensadores que tanto tempo perderam dissertando sobre ética) e em que noções um pouco mais exigentes e aprofundadas que norteem a vida pública, quer de trabalho quer política são olhados com desconfiança, os excessos de zelo são sempre perigosos. São uma drástica mudança do oito para o oitenta. São redutores, cegos, simplistas, puritanos (um puritanismo new wave) olham com pouca bondade para o ser humano e escondem muita intolerância. (E medo e inveja). Sempre me ensinaram a desconfiar quer de excessos de zelo quer dos zelos dos convertidos.
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